Pandemia traz impacto às migrações
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Entre os múltiplos efeitos que a pandemia está trazendo ao mundo, as correntes de imigração não ficam de fora. Países que recebiam grande número de imigrantes, como os europeus, os Estados Unidos e inclusive o Canadá, agora sofrem com alta taxa de desemprego. Como receber novos imigrantes e ainda os incluir no mercado de trabalho? É bastante provável que o Canadá reveja suas metas de imigração, não só para 2020 como para os próximos anos, até que a economia se recupere e os desempregados consigam colocação. Não faz sentido colocar mais pessoas em um barco enquanto ele ainda luta para não afundar.
Os Estados Unidos, então, tradicionalmente avessos à imigração pelo grande número de mexicanos e centro-americanos tentando cruzar suas fronteiras, por bem ou por mal, deve tornar-se ainda mais rígido nos seus critérios de entrada, dificultando vistos e vislumbrando com mais afinco o muro com o México, enquanto lida com um alto desemprego que está lhe custando trilhões de dólares. Se antes da pandemia o Brasil já recebia aviões cheios de deportados, imaginem o que o futuro reserva.
Temos na memória as cenas lamentáveis, ainda antes da pandemia, por outro lado, de precários barcos com imigrantes partindo da África para chegar à Europa. O principal porto de destino eram ilhas no meio do Mediterrâneo, muitas pertencentes à Itália. Devastada por mortes e em sua economia, o que a Itália, que já não conseguia lidar com a onda imigratória, poderá fazer agora? A Espanha, também muito buscada pelos barcos, não está em situação melhor. A Grécia, já pelas tabelas há muito tempo, nem se fala.
A situação dos imigrantes indocumentados mundo afora é outra questão séria. Fora dos programas de apoio dos governos e sem trabalho, quanto mais longa for a crise, dificuldades mais terríveis passarão. Invisíveis, terão que contar apenas com ONGs assistenciais sobrecarregadas por pedidos de auxílio e do compadecimento individual que consigam obter. Com as fronteiras fechadas, mesmo um regresso a seus países torna-se inviável.
Os países pobres e em desenvolvimento, como o Brasil, entretanto, serão os que sofrerão as consequências mais severas da pandemia, com uma desorganização elevada da economia e um aumento do desemprego, que levarão a uma expansão preocupante da situação de pobreza. Com isto, despertarão em muitos a ideia de emigração como tábua de salvação. “Se no Primeiro Mundo está ruim, aqui está pior”, será a linha de raciocínio para tantos novos empobrecidos e desempregados. Afinal, é possível que nesses países cresça inclusive a criminalidade, fruto do desespero e da falta de políticas sociais.
Como os países que tradicionalmente recebiam imigrantes (muitos já a contragosto) lidarão com isso agora? Espera-se que, ao menos, não usem a truculência para tentar barrar multidões de imigrantes em desespero. Essa pandemia deverá ter servido para criar uma nova ordem mundial, com um fortalecimento das Nações Unidas e de políticas mundiais de distribuição de renda. Ignorar problemas ou empurrá-los com a barriga já não adianta mais. Temos que entender, de uma vez por todas, que estamos todos no mesmo barco e, se um está mal, todos estão mal.
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