Grupos de percussão brasileira perdem espaço em Toronto

Em meio às consequências do Covid, o galpão Geary Lane deixará de oferecer espaço para ensaios a cinco grupos musicais

Ensaio do grupo Tdot Batu no espaço da Geary Lane, em Toronto.

Larissa Veloso é jornalista

Poucos setores foram tão afetados financeiramente pelo Covid quanto a comunidade artística. E se não bastasse todos os shows e apresentações cancelados, neste mês parte dos artistas brasileiros em Toronto sofreu ainda mais um baque: a perda do Geary Lane, um dos poucos espaços na cidade preparados para abrigar ensaios e shows de grandes grupos de percussão.

Dois grupos de samba (Batucada Carioca e Samba Squad), dois de Maracatu (Baque de Bamba e Mar Aberto) e um de samba-reggae (T.dot Batu) tiveram que retirar seus instrumentos do galpão próximo a Dupont e Dufferin St. O espaço de quase 300 metros quadrados usado por 15 anos pela comunidade artística brasileira foi agora cedido para uma organização que busca reabilitar jovens através do boxe. Enquanto os músicos guardam os instrumentos em casa, eles ainda procuram um lugar para ensaiar.

Pato e o grupo Tdot Batu.

“Não tem outro lugar como o Geary Lane na cidade, com isolamento acústico e tudo mais”, lamenta Pato Irie, líder do T.dot Batu. A grande questão é que esse tipo de prática musical requer um espaço grande o suficiente e também preparado especialmente para isso, já que os ensaios dos grupos de maracatu, por exemplo, podem chegar a envolver mais de 20 tambores. “Sempre foi difícil achar um espaço em Toronto para ensaiar, com a criação do Geary Lane isso foi uma luz na cidade para esses grupos”, relembra Aline Morales, líder do Baque de Bamba.

Aline Morales e o Baque de Bamba.

Depois de um ano de perdas de mais de 90% da renda obtida com a utilização do espaço, e sem perspectivas de reabertura esse ano, os proprietários não tiveram escolha a não ser alugar o local para outro setor, em um contrato de dez anos. “Não tem como a gente continuar financiando um prédio vazio, tivemos que tomar uma decisão”, diz Gili Zemer, co-proprietária do Geary Lane. “Sendo bem realista, é muito pouco provável que um espaço como o nosso, que abrigava shows para 150 pessoas, vá voltar a funcionar esse ano”.

O Geary Lane está longe de ser o único espaço artístico duramente afetado pela pandemia. Um levantamento feito pela Associação Independente de Música Canadense estima as perdas da indústria musical em $233 milhões em apenas seis meses, e afirma que o setor só vai se recuperar completamente em 2023.

Enquanto isso, parte dos grupos afetados procura ver o fim da Geary Lane como uma transição para algo ainda melhor. “Estou otimista. Já passamos por vários processos de destruição e criação antes”, diz Alex Bordokas, líder do Mar Aberto. Ele tem conversado com organizações, políticos e personalidades do meio artístico para que os grupos se unam em torno de um espaço mais permanente. “Existe uma demanda grande da comunidade artística brasileira”, diz.

“Nós precisamos nos unir para achar um espaço. Esses grupos de percussão já fazem parte da cena de Toronto, então seria ideal a gente ter uma ajuda da cidade nesse sentido”, reflete Aline Morales. Até lá, com os instrumentos guardados em casa, os artistas esperam o fim das restrições impostas pelo Covid-19 para poderem voltar a se reunir. “O que a gente quer é sair dessa pandemia mais fortes do que nunca. Não sei como, mas estamos chutando a bola pra frente”, diz Alex Bordokas.

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