A razão e a emoção nas campanhas presidenciais de 2022
André Oliveira & Rodolfo Marques são colunistas do Jornal de Toronto
A teoria da escolha racional, muito debatida em ciência política, assinala que as pessoas tendem a agir de modo a maximizar os próprios interesses, comportamento que é replicado por ocasião das eleições. Assim, o eleitor mediano votaria em partidos e candidatos que beneficiariam seus interesses pessoais que podem, por óbvio, não coincidir com os interesses coletivos. Essa razão instrumental de natureza pragmática não é, todavia, suficiente para explicar o comportamento do eleitor mediano, já que as emoções também importam, sobretudo no curso das campanhas eleitorais. Há, portanto, método na escolha das mensagens dos principais candidatos a cargos majoritários. Nesse contexto de competição acirrada entre partidos, o papel dos marqueteiros políticos assume crucial relevância.
O medo e a esperança são usados como poderosas mensagens nas campanhas eleitorais. No livro Emoções Ocultas: estratégias eleitorais, o cientista político brasileiro Antônio Lavareda lembra, por exemplo, como os conservadores britânicos venceram a eleição de 1992, apesar de o país se encontrar em recessão, ao criticar as promessas dos favoritos trabalhistas chamando-as de “Bomba dos Impostos do Partido Trabalhista” (“De onde sairão os 35 bilhões de libras?”, indagavam os conservadores na campanha). No final, os conservadores venceram “por cerca de dez pontos”, o que levou Neil Kinnock, o candidato trabalhista derrotado, a declarar: “Foi uma campanha do medo sobre a esperança”.
Na outra ponta, uma campanha calcada no triunfo do sentimento da esperança sobre o medo pode ser bem-sucedida. Foi certamente o caso da vitória de Lula em 2002, ocasião em que o candidato petista abandonou o discurso anterior e se apresentou como “O Lulinha Paz e Amor”, uma reconfiguração com a assinatura do seu então marqueteiro Duda Mendonça, hoje já falecido.
Na campanha atual, para ficar somente nos dois principais candidatos, a campanha do incumbente Jair Bolsonaro parece se concentrar na reedição do antipetismo exibido na campanha de 2018. A ênfase no medo como emoção mobilizadora parece igualmente evidente. É claro que Bolsonaro conta igualmente com uma recuperação rápida da economia, redução dos preços dos combustíveis e algum efeito positivo no recente incremento do valor do programa Auxílio Brasil.
Já a campanha de Lula, o principal desafiante, parece apostar, de um lado, na memória coletiva dos seus dois governos quando a economia do Brasil cresceu impulsionada pelo boom das commodities e, de outro, pela presumida repulsa da população pelo comportamento indiferente do presidente Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19. Todavia, a campanha de Lula não indica ter decidido ainda se enfatizará o medo (da reeleição de Bolsonaro) ou a esperança (de retornar aos presumidos bons tempos do crescimento econômico substantivo).
Apesar de faltarem apenas duas semanas para o primeiro turno, ainda é cedo para predizer qual mensagem terá sido mais efetiva, havendo, segundo as últimas pesquisas, ligeiro crescimento da pontuação de Bolsonaro, embora o presidente permaneça com altas taxas de rejeição, maiores do que as de Lula, que lidera as intenções de voto desde meados de 2021.
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