A telegráfica propaganda eleitoral
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
A comunicação ficou impressionantemente mais fácil em poucas décadas. Estão aqui para contar muitos que testemunharam os tempos de comunicação difícil e cara. Como telefone, por exemplo, era artigo de luxo, o meio mais rápido de contato com outra pessoa era o telegrama. Contudo, como era tarifado por palavra, era feito o mais curto possível, com o essencial para o destinatário entender a mensagem. Também eram telegráficos os anúncios classificados nos jornais, cobrados por linha. Tinha que ser feita a mágica de encantar um potencial comprador escrevendo-se apenas “VENDE-SE apto. 2 qtos, coz, WC, bem ensol. Tel xxx” – foto, nem pensar, óbvio. Vivíamos assim não faz muito.
Os partidos políticos gastavam muito com os “santinhos” de seus candidatos publicados nos jornais. Era a forma de comunicação de massa com os eleitores. O rádio e televisão revolucionaram a comunicação a seu tempo, mas eram (e são) ainda mais caros para anunciar. Assim, em julho de 1965, na ditadura, o horário político gratuito nessas mídias foi forçado pelo Código Eleitoral Brasileiro. Mais tarde, foram incluídos anúncios isolados, veiculados ao longo do dia, em meio às propagandas regulares das emissoras. Claro que, como não existe almoço grátis, o “gratuito” refere-se apenas aos candidatos e partidos: as emissoras emitem faturas normais pelo espaço utilizado, que servem como desconto em suas declarações de Imposto de Renda.
Atualmente, o horário político nas eleições presidenciais e estaduais inclui dois blocos de 25 minutos cada, no primeiro turno, e de 20 minutos no segundo. Na TV, iniciam às 13h e às 20h30min, e no rádio, às 7h e às 12h. Um eleitorado de 156.454.011 brasileiros está apto a eleger em 2 de outubro o presidente da República, 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais, 1.035 deputados estaduais e 24 deputados distritais. O problema é que vão concorrer 28.274 candidatos, chegando a haver mais de 24 candidatos por vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal, por exemplo. Como dividir o tempo de rádio e TV entre tanta gente?
Claro que aumentar o tempo de propaganda eleitoral não é opção, pois atualmente já é considerado chato por muita gente e ignorado pela maioria, que prefere ir fazer outra coisa ou simplesmente desligar o rádio ou a TV. Da forma em que está, fora os medalhões de cada partido, sobra a cada candidato tempo para dizer apenas: “Por x e por y, Fulano de Tal, número z). E para muitos candidatos, nem isso: apenas aparece sua foto e o locutor dizendo “Fulano de Tal, número tal”, como em uma lista.
Qual a eficácia disso? Eu, como eleitor, devo decidir meu deputado federal e estadual baseado em uma fala de cinco segundos? Ou de um candidato mudo, que sequer pôde falar? É assim que escolho quem vai comandar o destino do país ou do estado pelos próximos quatro anos? É uma diferença praticamente zero de escolher em uma roleta ou no uni-duni-tê. Vão acabar eleitos os mais conhecidos por outros motivos: prévia atividade política ou profissional conhecida publicamente, ou pela campanha nas ruas e comícios. Quem decide o voto por cinco segundos ou menos na TV ou no rádio? E, se decidir, o que tem de consciente e válido nessa escolha, se é apresentada apenas uma manchete de proposta ou proposta alguma?
Não sei se há solução para este problema de acomodar um número crescente de candidatos a cada eleição no limitado tempo de rádio e TV, que para muitos já é longo demais e, outra vez, chato. O certo é que esse espaço, que custa caro para todos nós, que pagamos impostos (imagine multiplicado por milhares de TVs e rádios de todo o Brasil), é de total ineficácia. Os candidatos precisam ser conhecidos, claro, mas esse método e não fazer nada parecem dar absolutamente no mesmo. Escolher namorada só por foto em site de namoro, sem ouvir uma palavra dela, é a perfeita receita para uma relação nem decolar. Que não façamos o mesmo sobre quem decide o futuro de nosso país.
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