Quarentena com as crianças

Tentar manter a rotina, explicar o que está acontecendo no mundo e gerar atividades diárias tem sido alguns dos desafios dos pais.

Foto: Conger.

Branca Sobreira é escritora e jornalista

Com o verão se aproximando e as temperaturas aumentando, os dias se tornam cada vez mais longos durante o período de isolamento social. Depois do inverno, o que as pessoas que moram no Canadá querem é aproveitar a Balcony Season, ou seja, curtir os bares, parques, o lago, o ar livre. Esse ano vai ser diferente por causa do Covid-19. Para diminuir a contaminação e salvar vidas é necessário ficar em casa e se distanciar da família e dos amigos. A tarefa não é fácil, mas primordial. Passar por esse período com crianças em casa e tentar manter a rotina, explicar o que está acontecendo no mundo e gerar atividades diárias para os pequenos, tem sido alguns dos desafios dos pais durante a pandemia.

No Brasil, onde a estimativa é de mais de cem mil casos do vírus, Tais Costa, arquiteta, que mora em Fortaleza – uma das cidades mais comprometidas do país e com risco do sistema de saúde colapsar a qualquer momento –, está se alternando com o marido para trabalhar e cuidar das crianças, os gêmeos Tom e João, de 2 anos e meio. Segundo ela, o maior desafio é “fazer tudo que é necessário no momento (lavar, limpar, cuidar dos filhos e trabalhar) e pensar na gravidade do que está acontecendo, no sofrimento das pessoas, nas perdas, e o medo de isso atingir quem a gente mais ama. Parece não haver espaço na cabeça e no dia pra tanta coisa, tanto sentimento”. Para Tais, ver a família mais unida do que nunca é a única coisa que a conforta: “Temos momentos especiais com os filhos, mas nem de longe acho que isso é uma vantagem do momento, vantagem mesmo seria estar compartilhando tudo isso com nossos familiares e amigos queridos”.

Dá esquerda para direita, Fernanda Soares com as gêmeas Olivia e Marion; Roberta Soares com Dante e Malu; Tais Costa com Tom e João; e Luana Machado com Iara.

Nos Estados Unidos, onde o número de contaminados ultrapassa um milhão, a situação não é diferente para Fernanda Soares, doutoranda em engenharia e planejamento de transportes, que mora na Califórnia, uma das regiões mais afetadas do país. Ela diz que a rotina tem sido consistente, apesar das gêmeas Marion e Olívia, de 4 anos, estarem acordando mais tarde e assistindo mais televisão durante esse período. A hora das refeições, de brincar e dormir ainda estão se mantendo. Difícil mesmo é ter descanso entre trabalhar e atender aos pedidos das crianças e, segundo ela, o próprio isolamento social é o grande desafio: “No dia a dia estamos acostumados a interagir com várias pessoas, as crianças também. Isolados apenas ao núcleo da família não temos uma válvula de escape. Acho que chega a um ponto onde todos ficam cansados de todos. É saudável o convívio com outras pessoas além dos de casa”. Fernanda também sente falta de um tempo exclusivo para ela. Sobre o lado positivo, diz que estão consumindo menos e dando importância ao que realmente é essencial.

Aqui no Canadá, o número de casos é de sessenta e dois mil. Roberta Soares, estudante de business, mora em Toronto, com o marido Rafael e os dois filhos, Malu, de 5 anos e Dante, de 3 anos. Eles chegaram à cidade em outubro do ano passado e, ainda em fase de adaptação, a pandemia chegou para mudar tudo. Na casa, em Etobicoke, as brincadeiras são quase vinte e quatro horas por dia. Tem pintura, costura, dança, videogame e até brincar de cozinhar fazem parte da rotina lúdica dos meninos que já estão fluentes no inglês.

A psicóloga Luana Machado, que também é mãe, relata que essa é uma situação de impactos únicos na vida das pessoas. Cada um vai sair transformado a sua maneira, não serão traumas, mas aprendizados. “É um momento que vai trazer transformações e como os pais vão lidar com isso é que pode ser minimizado para as crianças. Dependendo da idade das crianças, é necessário falar com clareza e explicar numa linguagem que elas entendam.” Ela relata também que é necessário dar espaço para os filhos falarem e verbalizarem os seus sentimentos. Como o cenário ainda é incerto e não sabemos de fato quando e como irá terminar, não é necessário mentir ou omitir, mas confortar com transparência e, com sinceridade, que estamos todos juntos nessa situação.

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1 comentário em Quarentena com as crianças

  1. Momento em que as famílias precisam estimular a criatividade e empatia. Excelente texto!

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