Açores… no sul do Brasil

A Ilha de Santa Catarina foi povoada por casais açorianos enviados pelo rei de Portugal na primeira metade do século XVIII.

Praia Mole, em Florianópolis. Foto: Susie Sun.

Manuela Marujo é portuguesa e profa. aposentada da UofT

Há quase vinte anos descobri um pedacinho de paraíso no sul do Brasil, a Ilha de Santa Catarina – referida entre os locais, muito apropriadamente, como “Ilha de Magia”. A minha primeira viagem foi no ano de 2000, ano muito significativo para Portugal e Brasil, pois se festejavam os 500 anos da chegada dos portugueses a “terras de pau-brasil”.

A Ilha de Santa Catarina, a cerca de 800 km a sul de São Paulo, foi povoada por casais açorianos enviados pelo rei de Portugal na primeira metade do século XVIII. Quando se chega à Lagoa da Conceição, Santo António de Lisboa, Ribeirão da Ilha (para mencionar apenas os mais conhecidos) ou se passeia pelo Centro de Florianópolis, temos a percepção de estar em qualquer lugarejo ou centro histórico de Portugal.

No sul da Ilha, os baleeiros açorianos deixaram bem marcada a sua presença em praias como Campeche, Armação, Matadeiro ou Pântano do Sul. Os barcos e a arte da pesca foram mantidos e a tradição é visível na construção das casas baixas, de barras azuis, amarelas ou ocre, nos túmulos dos cemitérios, nas igrejas e capelas.

O meu lugar favorito da ilha é o Balneário dos Açores; dá acesso à praia que me deslumbra. Esta praia, localizada entre as praias do Pântano do Sul e Solidão, oferece seis quilómetros de areia branca e fina. No horizonte, os ilhéus das Três Irmãs e Moleques do Sul. Está abrigada pelos morros que a separam da Lagoinha do Leste, do Ribeirão da Ilha e da Praia dos Naufragados, praias estas que requerem caminhadas por trilhas difíceis de acesso, ou onde se pode chegar de barco. A praia do Saquinho, de acesso por uma trilha mais fácil, oferece paisagem de beleza inesquecível e é de visita obrigatória. A vida parou ali e são apenas os nascidos lá e alguns artistas que ocupam uma mão cheia de casinhas simples de madeira. No caminho, até ao cimo do morro, e na descida para a praia, encontramos pequenas cachoeiras, árvores de fruto de goiabas, flores exóticas, muitos beija-flores e borboletas de cores variadas. Só na Festa da Cruz, de raiz açoriana, o Saquinho é surpreendido por dezenas de habitantes da Ilha. Assisti a essa festa em maio de 2000 e fiquei deslumbrada pela manifestação de fé que trouxe tanta gente ao pequeno lugar, numa noite de lua cheia, a iluminar a trilha.

Praia do Saquinho, em Florianópolis. Foto: Susie Sun.

Os “manezinhos da ilha”, como são denominados os descendentes dos açorianos, começaram a ganhar status na segunda metade do século XX, graças a estudiosos como Walter Piazza, Nereu do Vale Pereira, Lélia Nunes; trabalho de resgate cultural realizado por Franklin Cascaes, Celsi Coelho, Joi Cletison (do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina) e tantos outros artistas, pesquisadores e escritores que têm publicado muitas dezenas de obras sobre o legado açoriano na ilha. A Ilha de Santa Catarina recebe viajantes de todo o Brasil, é palco de congressos internacionais nas suas universidades e lugar de destino de muitos turistas.

Passar o verão em Florianópolis e poder escolher uma das dezenas de praias, todas diferentes e maravilhosas, é um privilégio. Melhor de tudo ainda é o reencontro com amigos manezinhos que nos recebem com amabilidade, carinho e muita simpatia – esse jeito brasileiro de ser que é único e me encanta.

 

Fotos de Susie Sun.

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