Os transgênicos e a sua saúde

Do ponto de vista de uma nutricionista funcional, a própria “natureza” do transgênico causa preocupação.

Foto: Charles Ricardo.

Juliana Nogueira é nutricionista funcional na Herbal Health Nutrition

O transgênico é um tipo de organismo que foi geneticamente modificado artificialmente. Mas para ser considerado transgênico, esse organismo tem que receber em seu genoma os genes de um organismo diferente – de outra espécie. O mercado dos transgênicos é dominado por 6 gigantes: Bayer, Basf, Dow Chemical, DuPont, Monsanto e Syngenta. Desde 2013, quando essas empresas faturaram juntas US$ 63 bilhões, acontece anualmente a marcha mundial contra a Monsanto, evento que mobiliza milhões de pessoas em mais de 400 cidades pelo mundo.

Mas, para cada oponente à produção de organismos geneticamente modificados você também encontra alguém que os defende com a mesma intensidade. Apesar das inúmeras incertezas relacionadas ao impacto dos transgênicos à nossa saúde e à saúde do planeta, seus defensores acreditam que essa seja a nossa única salvação, em um futuro em que a produção de vegetais e frutas não será suficiente para alimentar a população mundial.

Do ponto de vista de uma nutricionista funcional, a própria “natureza” do transgênico causa preocupação. Os vegetais da família das solanáceas, por exemplo (o tomate, a berinjela, o quiabo e a flor petúnia), têm a tendência de causar inflamação em pacientes que sofrem de determinadas enfermidades. A soja pertence a uma família completamente diferente, mas também deve ser evitada hoje em dia por pacientes com intolerância às solanáceas, isso porque a soja transgênica, ou soja-RR, também contém genes da flor petúnia. Para conseguir as características desejadas nos transgênicos, os cientistas usam vários tipos de genes diferentes em cada organismo, o que resulta em uma construção complexa de materiais genéticos, extraídos de bactérias, vírus, peixes, plantas e outros. Daí já dá para ter uma ideia do tipo de dificuldades que encontraremos em um futuro transgênico.

Os produtores de transgênicos alegam que uma das maiores vantagens no plantio é a redução no uso de pesticidas e herbicidas. Então vamos checar os fatos: segundo dados do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Agro Biotécnicas, o Brasil é o país com a segunda maior área plantada de transgênicos no mundo; e, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, a venda de agrotóxicos no país saltou de US$ 2 bilhões em 2001 para US$ 8,5 bilhões em 2011. Voltando ao caso da soja-RR, dá para entender de onde vem parte desse aumento. Com o uso contínuo do herbicida glifosato as ervas daninhas acabam se tornando resistentes a ele. Quando isso acontece, o fazendeiro tem que usar uma quantidade cada vez maior do veneno. Hoje em dia, como a característica principal da soja-RR é a resistência ao glifosato, o herbicida acaba sendo usado em quantidade muito maior. Vale ainda ressaltar que quase 100% da soja produzida no Brasil hoje é transgênica. Enquanto isso, países como a França, onde os transgênicos são proibidos, vêm diminuindo o uso de agrotóxicos nos últimos anos.

Estudos comprovam a conexão entre o uso do glifosato e problemas no sistema digestivo. A saúde começa com uma boa digestão e assimilação de nutrientes; quando o sistema digestivo não está bem, ele afeta diretamente todas as outras partes do nosso corpo. A consequência são problemas crônicos de saúde, como obesidade, depressão, autismo, infertilidade, Alzheimer, doenças cardiovasculares, etc. Esses problemas vêm crescendo em quantidades alarmantes.

Existem ainda inúmeros outros aspectos dos transgênicos que devem ser discutidos, como a questão da monocultura, a ameaça à biodiversidade e a consequente degradação do solo, dentre diversos outros. No entanto, ao meu ver, o maior problema é a falta de acesso à informação, em que o consumidor segue às escuras e sem liberdade de escolha.

Contato: juliananutrition@gmail.com

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