A fantasia sobre Israel e a política brasileira

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A bandeira israelense e brasileira são vistas do lado de fora da Embaixada do Brasil em Tel Aviv, em outubro de 2018. Foto: Jack Guez_AFP_Getty Images.

Rodrigo Toniol é colunista do Jornal de Toronto

Durante a campanha eleitoral de 2018 testemunhamos um fenômeno curioso no Brasil: candidatos alinhados à chamada onda conservadora, assim como seus apoiadores, passaram a fazer uso ostensivo da bandeira de Israel. No período de campanha, a demonstração de apoio às causas da chamada nova direita apelava para a estética nacionalista do verde e amarelo, do uso de camisetas da seleção de futebol, por bandeiras do Brasil e, justamente, por bandeiras de Israel. A estética se transferiu para o mundo virtual e as duas bandeiras passaram a ser a marca e um ícone capaz de comunicar a identificação com o conservadorismo em perfis do Twitter e Instagram.

Durante parte do mês de janeiro deste ano estive em Israel para uma participação em um evento acadêmico cujo tema era exatamente esse, o uso de referências à Israel em diferentes partes do mundo pela direita emergente. A primeira constatação mais geral é a de que estamos, de fato, falando de um fenômeno que extrapola o caso brasileiro e que tem se repetido em diferentes latitudes. A segunda é a de que o apelo à Israel parece ser algo que permanecerá constante como marca da construção estética dessa nova direita. Mas afinal, o que significa esse apelo? Como explicar o uso da bandeira de Israel por pessoas sem qualquer conexão com aquela região do mundo ou com sua história? Por que isso, e por que agora? Essas são perguntas chaves e as respostas ainda estão se delineando, mas destaco três pontos que devem permanecer em nosso horizonte quando tentamos entender o fenômeno no Brasil.

A referência à Israel não indica simplesmente o desejo por uma aliança política com aquele país, o que está em jogo é acionar, por meio dessa referência, uma Israel imaginária. Nesse caso, o país do Oriente Médio é uma imagem projetiva e, por mais fantasiosa que possa ser, acioná-la é eficaz para seu uso político. No Brasil, a comunidade israelita é minoritária, mas associar um projeto político a ela pode servir como atalho para se aproximar de suas características: branca, classe média e tradicional. A referência à Israel é um atalho para o branqueamento desejado das classes ascendentes que têm se associado com a nova direita, e também para cumprir um antigo projeto dos grupos já estabelecidos das classes mais abastadas. Por fim, não podemos esquecer que é cada vez maior o número de igrejas evangélicas que fazem uso de símbolos judaicos. O elemento mais emblemático desse processo certamente é a construção do Templo de Salomão, no meio da Brás, em São Paulo, erguido com pedras vindas de Israel e com cultos com pastores usando quipá. Esse Templo da Igreja Universal adiciona uma nova camada de convergência entre a nova direita e alguns grupos evangélicos no Brasil. A nova direita está construindo sua estética e essa Israel imaginária faz parte dela.

Sobre Rodrigo Toniol (11 artigos)
Rodrigo é doutor em antropologia e professor da Unicamp, tendo realizado estudos de pós-doutorado na Universidade de Utrecht (Holanda); foi também pesquisador-visitante nos Estados Unidos e México. Suas pesquisas e publicações estão principalmente relacionadas com os temas de religião, saúde e ciência.

1 comentário em A fantasia sobre Israel e a política brasileira

  1. Israel é uma base americana no fundo do Mediterrâneo. E a Síria Damasco um lugar seguro para as bases russas Na região, bem como a Crimeia. Bolsonaro , se não sabem está pronto para viajar à Itália, Hungria e Ucrânia, três países facistoiides……., estamos em risco mas como ele é burro, a maioria pobre do Brasil lhe negará apoio

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