Brasil se move para a direita ideológica e a pergunta que se impõe:
Rodolfo Marques é doutor em Ciência Política pela UFRGS e professor-adjunto da Universidade da Amazônia
& André Oliveira é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco
Fechadas as urnas e anunciados os resultados eleitorais para a Presidência da República na noite de domingo (28 de outubro de 2018), o Brasil, em sua maioria dos eleitores, decidiu migrar para o viés ideológico de direita, ao eleger Jair Messias Bolsonaro para a Chefia do Poder Executivo brasileiro para o quadriênio 2019-2022.
A sua vitória, com pouco mais de 55% dos votos válidos, não foi tão retumbante como se imaginava após o primeiro turno das eleições, realizado em 7 de outubro, mas, com uma diferença superior a 11 milhões de votos em relação ao segundo colocado, o candidato do PT, Fernando Haddad, não há como desconsiderar a legitimidade e a representatividade do seu êxito eleitoral. Dado representativo desse processo, também, são os 40 milhões de eleitores que não compareceram às urnas e/ou anularam o voto ou votaram em branco.
A vitória de Bolsonaro se insere no contexto também da onda conservadora que se consolidou no pleito de 2018, consagrando a vitória de candidatos mais à direita no espectro ideológico, por exemplo, nos governos dos três principais colégios eleitorais do Brasil: João Dória (PSDB-SP), Romeu Zema (NOVO-MG) e Wilson Witzel (PSC-RJ).
Um dos grandes méritos eleitorais de Jair Bolsonaro foi ter canalizado a seu favor o movimento antipetista, “bandeira” abraçada por ele já há muitos anos, inclusive quando o PT exercia a Presidência da República com altos índices de aprovação, como, em especial, no segundo Governo Lula (2007-2010).
Além desse protagonismo do antipetismo em sua campanha, Bolsonaro optou por alguns discursos extremistas, conservando ações vinculadas à defesa da família e das religiões tradicionais e fazendo algumas promessas como o enxugamento da máquina pública – através, por exemplo, da redução dos Ministérios dos 29 atuais para 15 no próximo governo. Além disso, já na reta final do pleito, Bolsonaro falou em “liberar o Itamaraty do viés ideológico”, buscando claramente um novo plano de relações internacionais para com países com gestões mais conservadoras.
Em uma de suas primeiras declarações após confirmar a sua vitória, o presidente eleito, através das redes sociais, oscilou em alguns discursos e, entre outras ações, rezou um “pai-nosso” com seus familiares e aliados, reforçando alguns aspectos de seu perfil político-ideológico.
Qual Bolsonaro subirá a rampa do Planalto, em 1 de janeiro de 2019, e passará a governar o Brasil? Será o radical que foi em toda a sua carreira política, defendendo a tortura como prática legítima, criticando minorias e vários grupos sociais, como negros, gays e mulheres, vociferando contra a oposição como em discurso transmitido para o público da Avenida Paulista (em 21 de outubro, uma semana antes do segundo turno eleitoral), ou, de maneira distinta, será o Bolsonaro com um tom mais conciliador, respeitando a Constituição – como fez questão de frisar na reta final de campanha –, propondo reformas e buscando negociações com o Parlamento?
A discussão e posterior aprovação dessas reformas são desafios que já vão se impor ao próximo presidente nos primeiros meses de 2019. O perfil dos escolhidos para os Ministérios – se mais técnico ou político – também denotará um pouco mais de como o presidente eleito irá conduzir a sua gestão, algo que não ficou claro durante o período eleitoral, em especial por ele não ter participado dos debates públicos.
Jair Messias Bolsonaro assumirá o cargo com a legitimidade da maioria que o escolheu, mas deverá enfrentar uma oposição aguerrida de parlamentares e lideranças políticas de esquerda, de parte da grande mídia, e de outros atores políticos relevantes no Brasil.
Por ora, há mais dúvidas do que certezas.
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