3 _ As casas vitorianas e os marshmallows
Rodrigo Fessel Sega é sociólogo pela Unicamp
Da série “Amanda Pro Canadá”
Ao final de 2010, com 27 anos, Amanda retornou de sua viagem para Portugal com o noivo e passou semanas pesquisando na internet qualquer conteúdo sobre o Canadá. Seu noivo havia conseguido um bom emprego em uma empresa de médio porte em São Paulo e, apesar de a amiga de Amanda dizer que sua carreira era muito bem aceita no Canadá, ele não estava empolgado em mudar-se naquele momento de país e começar do zero.
Amanda, não. Ela estava deslumbrada com o Canadá. As casas vitorianas de dois andares, construídas entre vielas e árvores robustas, realçavam sua beleza aos espelharem o branco da neve recém-caída. Lembrava-se de seu intercâmbio para Nova Iorque quando era adolescente e tinha saudades de voltar àquele lugar. De voltar à sua última semana na cidade, àquela banca de jornal com uma revista sobre o Canadá. Queria conhecer Montreal e o rio congelado de Ottawa. Na internet, via as fotos de mulheres brasileiras com seus filhos e queria ser como elas. Imaginava-se patinando no rio, enquanto seu noivo a filmava. Certa noite, sonhou que estava em uma casa vitoriana em frente a um lago e não conseguia achar um galho para espetar os marshmallows. Passou o sonho todo procurando por um, enquanto todos assavam suas guloseimas. Acordou apavorada, achando que todos estavam se divertindo, menos ela. Seu noivo ria de sua gritaria por marshmallows.
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