Os finalistas para o Galo de Barcelos da Dundas St. West

Projeto entra na segunda fase

Foto: Domiriel.

Alexandre Dias Ramos é editor

Foram divulgados os 5 finalistas para o projeto do Galo de Barcelos que será instalado na esquina da Dundas St. West com a Lakeview Ave.

A Câmara Municipal de Barcelos ofereceu à cidade de Toronto uma estátua de grandes dimensões representativa do lendário Galo, que é o símbolo desta cidade portuguesa. Esta estátua irá receber a intervenção de um artista e ficará exposta no bairro de Little Portugal como peça de arte urbana.

“Este projeto demonstra a profunda ligação desta vizinhança e a comunidade luso- canadiana. Através dos seus esforços criativos, os artistas vencedores irão recriar um sentido de pertença para os portugueses-torontonianos ao celebrarem a herança e a história do Little Portugal em Toronto”, disse a vice-prefeita de Toronto, Ana Bailão.

Após um concurso público promovido pelo Município de Toronto com candidaturas abertas a artistas da cidade, foram selecionados cinco finalistas para este projeto. São eles:

  • Christiano De Araújo
  • Clandestinos Crew
  • Julia Prajza
  • Quentin Commanda
  • Viktor Mitic

Cada um destes finalistas irá apresentar até o dia 15 de abril uma pequena versão do projeto que idealizaram para o design final do Galo de Barcelos. Estas maquetes poderão ser vistas a partir desta data em Little Portugal, no balcão do IC Savings, na 1168 Dundas St. West. 


Na terceira fase do projeto, será selecionado um único artista para criar seu design vencedor no galo em tamanho real. O projeto vencedor será anunciado no Dia de Portugal (10 de junho), estando a conclusão prevista para setembro de 2021.

Galo de Barcelos. Foto: Ricardo Bernardo_Flickr.

Em princípio, o Jornal de Toronto poderia apenas noticiar a escolha dos selecionados, como nos parágrafos acima, mas me ofereci a escrever um pouco sobre os artistas finalistas.

Não sei bem como foi feito o processo de seleção para chegar aos 5 candidatos, mas sei quão difícil é equilibrar os vários elementos que envolvem todo e qualquer processo de seleção. Já fui júri em vários salões de arte, fui curador de dois festivais de cinema em Toronto e de inúmeras exposições de arte no Brasil. Escolher alguém significa sempre preterir outros, e há, além das questões técnicas, artísticas e conceituais, também as questões geográficas e de representatividade social. A escolha depende não apenas da produção de cada artista, mas também dos requerimentos que o projeto exige, incluindo questões de escala (pois nem todos conseguem trabalhar bem com grandes formatos) e, neste caso, elementos urbanos envolvidos no contexto do bairro de Little Portugal.

Dito isso, creio que há diferenças grandes entre os artistas selecionados e não entendi bem como a banca julgadora chegou em alguns deles. Não consigo ver, por exemplo, de que forma o grafismo de Quentin Commanda poderia se encaixar no projeto do Galo de Barcelos. Tomando por base suas letras ao estilo “pixo”, com estética do hip hop dos anos 90, ou seus belos murais indígenas (Nipissing Anishnawbe) de grande impacto visual, creio que pouco podem se relacionar com a tradição portuguesa do bairro, objetivo do projeto em questão.

Pintura de Quentin Commanda.

Quanto a Julia Prajza, é possível dizer que seu trabalho como designer gráfica é excelente, e alguns de seus murais funcionam bem para determinados tipos de público, mas não acho que sua técnica de pintura (e resultados) tenham qualidade suficientes para fazer jus ao presente que a cidade de Barcelos ofereceu ao nosso bairro. Se não for para adicionar ao Galo elementos que enriqueçam sua estética e presença em nossa comunidade, teremos apenas mais um entulho colorido na cidade, como tantas caixas de tráfego espalhados pelas esquinas de Toronto. Eu sei, as escolas de arte aqui são péssimas, mas é preciso ter o mínimo de critério.

Trabalho de Julia Prajza.

Viktor Mitic pinta muito bem e criou uma receita que, ao que parece, sempre funciona. Ao colocar marcas de balas em retratos, cria um significado forte de contestação. Em alguns casos, não, pois não é sempre que o jogo de “ligar os pontos” funciona, especialmente quando ele deseja “se apropriar”, digo, “re-significar” obras de arte de outros artistas. Geralmente a técnica não consegue encobrir a falta de conceito próprio do artista. De mais a mais, não sei se os moradores gostariam de ver o Galo de Barcelos todo alvejado. Sigo muito curioso para entender os critérios de seleção dos finalistas para esse projeto, e penso quais bons artistas talvez tenham sido excluídos. Enfim.

Obra de Viktor Mitic.

O brasileiro Christiano De Araújo é conhecido pela qualidade e escala de suas obras. Em junho de 2018, o Jornal de Toronto publicou uma matéria sobre a inauguração de seu mural na Queen St. West; depois disso, muitos outros murais vieram, incluindo o da 1689 St. Clair Ave. West., com aproximadamente 1800sf., elegante e muito bem elaborado. Christiano tem técnica e certamente fará um ótimo trabalho com o Galo.

“Murale de Familia”, pintado por Christiano De Araújo na 1689 St. Clair Ave West, em Toronto.

Minha aposta é no grupo Clandestinos Crew, formado pela chilena Shalak Attack e pelo brasileiro Bruno Smoky. O coletivo já possui um mural na 1608 Dundas West, próximo a Brock Ave., entre tantos outros pela cidade, todos de extremo impacto. Suas obras não apenas trazem deleite estético, mas também maturidade técnica e conceitual. Os artistas têm uma capacidade ímpar de dialogar com a cidade, criam cenários de intensidade histórica, e sabem, na medida certa, misturar cosmogonias de tribos urbanas e tradicionais. E, a meu ver, esse é o significado e o objetivo do projeto do Galo de Barcelos em Little Portugal.

Por enquanto, vamos esperar até o dia 15 de abril, quando as maquetes serão apresentadas; depois, esperamos que a escolha faça sentido para nosso bairro. Boa sorte aos artistas selecionados.

Sobre Alexandre Dias Ramos (27 artigos)
Alexandre é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador da Universidade de São Paulo. É editor há 20 anos e mora em Toronto, Canadá.

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