Animais malignos da fauna brasileira – Parte 2

Os mais curiosos espécimes originários dessa selva onde um dia existiu uma antiga civilização chamada Brasil.

Imagem do livro "Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil", escrito por Johan Nieuhof, em 1682. Cortesia: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.

Cristiano de Oliveira é colunista do Jornal de Toronto

Mesmo se, no momento em que escrevo esse texto, eu já soubesse o resultado do segundo turno das eleições, não haveria muito o que falar. Então vamos voltar a apresentar os mais curiosos espécimes originários dessa selva onde um dia existiu uma antiga civilização chamada Brasil.

O Pássaro Favô-Favô

Esse bicho aparece no seu quintal, pousa no seu ombro, come alpiste… e depois some. Passa anos sumido, ou às vezes até passa voando perto da sua casa, mas não dá um pio. Até que um belo dia, ele resolve ir morar no Canadá e “queria umas dicas”. Ah, pronto. Aí ele pousa outra vez à sua porta, como se fosse Roberto chegando pra visitar Erasmo cantando O Portão, e demonstra a disposição de um Pégaso indomável pra sair e tomar uma cerveja outra vez, depois de 800 anos desaparecido. Esse pássaro só consegue cantar quando a melodia é sobre ele mesmo e sobre um Canadá impecável que ele conheceu na internet e jura que existe. Fora isso, ele só emite um piado enjoado. Chame logo o controle de pragas urbanas, e acima de tudo: tranque bem a porta de casa. Se ele entrar, vai passar o inverno inteiro piando aquela musiquinha, “uai, tem que tirar a bota de neve na porta?”. Não, desgraçado, é pra calçar outra por cima! Bicho irritante…

O Frango do Cerrado Digital

Facilmente encontrado no vasto cerrado das mídias sociais brasileiras, esse animal incha todo e aumenta 400 vezes de tamanho quando entra em discussão. Você acha que é um galo bravo e das esporas afiadas, mas basta sair dali e cruzar com você na rua que se torna fácil verificar que é um membro do reino Animalia, filo FrangosÆ, classe Borronia, ordem Covardhini: ele se encolhe todo e fica bem quietinho, rezando pra você não se lembrar do que ele te chamou. Não tente pegá-lo, pois sendo um verme invertebrado, ele escapa fácil.

O Mico Enrolão Dourado

Esse bicho sem-vergonha tem tanta doença que os cientistas ainda estudam se ele não é uma mistura de pomba com guaxinim. O bicho é sujo com força: falou em sujeirada e trambicagem, ele já passou por lá. Curiosamente, apesar do telhadão de vidro, ele tem essa incrível habilidade de sentar no rabo pra falar dos outros, e ainda fala alto! A criatura gosta de aparecer, mesmo estando cheio de esqueletos no armário. Reclama da corrupção, de gay e de comunista, e quando a casa cai para o lado dele, põe a culpa em gay e comunista. Espelho em casa, que é bom, esse bicho não tem.

O Nem-Te-Vi

Você sabe que esse bicho mora no Brasil, e você até ouve o canto dele quando vai lá. Mas é impossível encontrá-lo, pois ele não tem interesse absolutamente nenhum em ver você. Quando você avisa que está indo embora, ele pia reclamando que você não se esforçou o bastante para ir vê-lo. O Ibama pede para que evitemos tacar muita pedra nos membros dessa espécie.

O Nem-Te-Vi-Nem-Verei

Igual ao Nem-Te-Vi, com a diferença de que este nem pia uma desculpazinha por não te ver. Ele fica é quieto no buraco dele até você ir embora, e se bobear está torcendo pra que você, projeto de gringo do meio dos infernos, lasque-se apropriadamente. Cuidado que ele morde.

O Urso Nervoso das Montanhas

Facílimo de identificar. Basta chegar perto do resto da bicharada e identificar quem é o bonitão que está tocando surdo no samba ou escrevendo colunas pro jornal. Dê cerveja a ele.

Adeus, cinco letras que choram.

Leia os Animais malignos da fauna brasileira – Parte 1

Sobre Cristiano de Oliveira (30 artigos)
Cristiano é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

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