Animais malignos da fauna brasileira – Parte 1
Cristiano de Oliveira é colunista do Jornal de Toronto
Rodei as matas e levei flechada de índio em dois hemisférios diferentes, mas meus estudos em Toscobiologia e Ictiologia da Lagoa da Pampulha finalmente estão gerando resultados. Posso hoje começar a apresentar meu compêndio de piores animais da fauna brasileira, a saber:
O Furão Festeiro
Esse bichinho da cara pidona sente cheiro de picanha de longe. Bastou ter festa na sua casa, e ele já está rodeando o seu quintal. Ai de você se não deixá-lo entrar, vai ficar muito feio no reino animal, mas se ele entra, você se lasca do mesmo jeito. Sendo um bicho onimerdófilo (significa que faz todo tipo de bobagem, sem distinção), ele age em várias áreas: é comum vê-lo levar 6 Coors Light pra festa e acabar bebendo 12 Stellas. Outros espécimes só vão embora depois que o dono da casa começa a manusear armas de fogo. Dica: ao perceber a presença de um Furão Festeiro no seu quintal, não entre em pânico. Evite fazer movimentos bruscos e esconda todos os instrumentos de percussão disponíveis, pois se ele começar a tocar, é igual mordida de tartaruga: dói, e só larga quando chove.
A Taturana Pimenta-No-Dos-Outros
Essa criatura é originária do Brasil, onde ela se autoproclama “diferenciada”, acha que lagarta pobre tem mais é que se virar sozinha e programas do governo da mata são coisas pra insetos vagabundos. Em certa altura da vida, emigra para o Canadá, onde passa a habitar a camada mais rasteira da pirâmide alimentar, e aí se diz defensora das lagartas em situação de fuleiragem extrema. E se pintar uma árvore do governo bem verdinha, ela traça as folhas com o maior prazer.
O Esquilo Furta-Conta
Esse simpático bichinho costuma andar em bandos e esperar por você de braços abertos no Brasil. Muito afável, ele sempre aceita convites pra tomar uma gelada. O problema é que, ao ser exposto à conta, o bicho demonstra uma habilidade sem igual e desaparece, deixando a conta pra você. Em situações de pânico, o Esquilo Furta-Conta emite a frase “Você ganha em dólar”.
O Rouxinol Delícia
Ah, esse é enjoado. O Rouxinol Delícia é um bicho que aprende a cantar no Brasil e se apaixona pela própria voz. Em certa altura da vida emigra para o Canadá achando que o Brasil é pequeno demais pra tanta gostosura e que o mundo precisa conhecer o seu talento incomensurável. Até a ficha cair e ele concluir que é um zero à esquerda, o Rouxinol Delícia encherá imensamente o saco do povo, não só cantando, mas também dedicando seu tempo livre a contar pra todo mundo como ele fez o maior sucesso ao tocar no International Festival Zemaneh Rocks.
O Mico Delícia
Do mesmo reino e filo do Rouxinol Delícia, mas com duas pequenas diferenças de classe: ao invés de passarinho, é um macaco; e ao invés de cantar, toca algum instrumento. Retém a mesma habilidade do primo de se achar gostoso, além de coçar o ouvido e cheirar o dedo.
O Baiacu Delícia
É outro neto do Vô Delícia, só que esse nem canta nem toca, ele é chato e metidão de graça mesmo. Os outros ao menos ou voam ou pulam pelas árvores, mas esse aí só enche.
E calma que tem a Parte 2. Quando eu invoco, a casa cai.
Adeus, cinco letras que choram.
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