A inelegibilidade de Bolsonaro e as futuras eleições presidenciais

Com Bolsonaro interditado, haverá certamente um novo arranjo no jogo político

Palácio do Planalto. Imagem: Fundação Oscar Niemeyer.

André Oliveira Rodolfo Marques são colunistas do Jornal de Toronto

No último mês de maio, defendemos na 10ª edição do Congresso da Compolítica, realizada na Universidade Federal do Ceará (UFC), o artigo intitulado “Porque o bolsonarismo perdeu o apoio da direita liberal-centrista – Uma justificação teórico-conceitual” (disponível AQUI). Trata-se de um trabalho em construção, mas que aponta para um problema com o que o lulismo e o bolsonarismo, os dois principais movimentos políticos do país, terão que enfrentar nas próximas eleições presidenciais, em 2026. O centro político, sobretudo a direita liberal-centrista, embora esteja, por assim dizer, em um corredor estreito entre os dois principais movimentos, pode representar um pêndulo relevante caso a próxima eleição presidencial se mostre igualmente acirrada como foi a de 2022.

Como apontamos no trabalho, Bolsonaro desprezou o centro político, optando por enfatizar seus apelos radicais ao seu eleitorado cativo – o que, em nossa visão, foi fatal para a candidatura oficialista à reeleição. Lula recebeu então o apoio da maioria da direita liberal-centrista, que viu no líder da esquerda um mal menor diante do discurso abrasivo de Bolsonaro.

Agora, por decisão do TSE, da qual cabe recurso para o STF, Bolsonaro foi julgado inelegível pelo período de 8 anos. Não se sabe se Bolsonaro sobreviverá politicamente a tal lapso temporal, mas já se discute abertamente quem sucederá a direita no próximo pleito presidencial, recaindo as preferências sobre Tarcísio de Freitas e Romeu Zema, governadores de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente; mas há quem aponte a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também como potencial candidata. De qualquer modo, é cedo para predizer que o bolsonarismo – estimado em 22% do eleitorado, segundo pesquisa do Instituto Datafolha do mês de abril último – vá definhar até desaparecer ou mesmo se tornar irrelevante.

Quanto a Lula, o êxito do seu governo depende, em larga medida, do crescimento econômico – o que já ocorre, com alguns sinais –, da ausência de escândalos de corrupção no governo e, como ressaltamos em nosso paper, de uma aproximação efetiva com o centro político. Neste último aspecto, Lula tem enviado sinais contraditórios à opinião pública, quando sinaliza reiterados apoios à ditadura venezuelana e insiste nas críticas à autonomia do Banco Central, movimentos que produzem estranhamento aos empresários do agronegócio e à classe média, além de afastá-lo da maioria de direita no Congresso Nacional.

Com Bolsonaro interditado, haverá certamente um novo arranjo no jogo político com outros atores entrando na corrida eleitoral pelo Palácio do Planalto. A probabilidade é que o centro se torne mais relevante nesse novo cenário, considerando que o discurso incandescente de Bolsonaro foi bloqueado por decisão contundente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após a opção da maioria dos eleitores que, em 2022, preferiram Lula.

Sobre André Oliveira & Rodolfo Marques (37 artigos)
André Oliveira (à esquerda) é advogado com especialização em Direito Público, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco e membro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) desde 2009. Rodolfo Marques é analista judiciário, publicitário e jornalista; Mestre (UFPA) e Doutor (UFRGS) em Ciência Política, e professor de Comunicação Social na Universidade da Amazônia e na Faculdade de Estudos Avançados do Pará.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: