A morte é a energia que se transforma

Ela encerra um ciclo, suspende planos, transforma metas, ressignifica sentimentos

Foto: Sez Nandy.

Gui Freitas é colunista do Jornal de Toronto

A morte pode nos parecer finitude. Ela encerra um ciclo, suspende planos, transforma metas, ressignifica sentimentos. Para os que ficam, a dor, o sofrimento e o luto parecem turvar as perspectivas de viver enquanto se tem vida. Redundante? Talvez. Mas ao invés de pensarmos o que vamos fazer antes de morrer, por que não dizemos o que vamos fazer enquanto ainda estamos vivos?

Nosso corpo é matéria, composto por células, moléculas, átomos. E, se a energia não acaba, se ela se transforma, essa energia é transformada em alguma outra. Alguns acreditam que ela vai habitar uma nova matéria. Outros, que ela vai habitar uma outra dimensão. Para os Cristãos, estamos no período da Páscoa. A Ressurreição. Viver de novo. O que você faria se tivesse essa oportunidade? O que diria aos que ama, o que lutaria com mais afinco para conquistar? Que experiência seria mais bem aproveitada? Qual mensagem você deixaria para ser a sua memória?

As memórias, o que fazemos, o que vivemos e, principalmente, o que compartilhamos, é o que mantém nossa energia viva, circulante. A morte é transformadora. Se pensarmos em um contexto social, a morte do Príncipe Philip nos lembra que grandes transformações no Reino Unido estão por acontecer. No contexto individual de quem experimentou uma perda esse ano, as transformações internas podem construir indivíduos mais fortes, com propósitos bem definidos e uma vontade maior de deixar sua história expressa na vida dos que ama.

O luto deve ser vivido. Ele faz parte. Ele nos auxilia a organizar pensamentos e sentimentos. A redefinir estratégias. Como as lagartas, que se fecham em casulos para se preparar para a transformação e voarem alto como lindas borboletas, também precisamos desse período de introspecção, para sermos capazes de transformar essa energia positivamente. Manter viva a energia do outro, e renovar a nossa, preparando para grandes transformações. E nós, não deveríamos viver esperando uma segunda chance, mas viver cada segundo como uma única oportunidade enquanto temos vida.

Leia também o texto “A morte do outro lado do mundo”, de Sonia Cintra.

Sobre Gia Freitas (17 artigos)
Gia é brasileira, médica pediatra, esposa e mãe de dois filhos. Vivendo em Toronto, na eterna jornada do auto-conhecimento. Apaixonada e idealista, tem na leitura seu refúgio e na escrita sua liberdade.

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