A morte do outro lado do mundo
Sonia Cintra é gerente de marketing
Como imigrantes, trazemos na mala muito mais do que roupas e objetos pessoais; trazemos conosco o desejo de um futuro melhor, o desafio com a nova língua, a conquista de novos amigos, a busca por emprego, etc. Mas trazemos também a nossa história de vida, as pessoas que amamos e que deixamos em casa.
Com o tempo, a saudade, que nos afeta nos primeiros anos de distância, aos poucos diminui e ganha ares de rotina. E nessa rotina um “olá” ao telefone ou uma conversa pelo skype acabam amenizando a sensação de distância. Mas… e quando o telefone não atende mais, quando o skype não funciona…? O que realmente sentimos quando perdemos alguém querido?
Por ser um assunto delicado, é comum deixarmos para pensar na morte somente quando ela acontece. É menos dolorido assim, principalmente quando estamos do “outro lado do mundo”. No entanto, não tocar a morte acaba dificultando o processo de despedida, afinal, faz(ia) parte da rotina um contato esporádico, em datas importantes, ou quando precisávamos de um favor. Essa distância deixa a despedida diferente, lenta, surreal, mas não menos difícil.
Além da parte sentimental, há de se levar em conta também as questões burocráticas. Você pode ter se mudado de país, mas ainda traz laços de onde nasceu – queira ou não – e assuntos como testamento, herança, advogados e inventário podem estar atrelados a esse momento. Nessa hora, é preciso ser prático e deixar um procurador de confiança tratar disso para você. O consulado pode ajudar nessa parte – há como emitir procurações, por exemplo, mesmo estando em terras distantes.
Se a ideia é voltar correndo, caso haja uma emergência, lembre-se que a viagem é longa, e o tempo entre a hora da morte e o enterro, no Brasil, está cada vez menor. A calma nessa hora é essencial. Pense nos prós e contras de uma viagem de última hora e, se não for possível, ofereça o seu amor e pensamentos à pessoa querida. Homenagens e celebrações realizadas aqui mesmo podem ser uma bonita forma de despedida também.
Enfim, para quem não quer ou não pode pegar o primeiro voo de volta, o melhor é encarar a nova realidade com suavidade e paz para tornar esse momento de despedida mais ameno.
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