O que muda na relação médico-paciente com a telemedicina?
Gui Freitas é colunista do Jornal de Toronto
Apesar da telemedicina já fazer parte das discussões no Brasil há mais de 20 anos, apenas especialidades como radiologia e patologia já tinham uma regulamentação. Em fevereiro de 2018, foi publicada uma resolução pelo Conselho Federal de Medicina regulando o tema, mas foi revogada em fevereiro de 2019. Em 2020, com a chegada de uma pandemia para questionar todos os padrões que existiam inicialmente, esse assunto ganhou uma atenção especial, tanto dos médicos quanto dos pacientes, e todos tiveram que se adaptar rapidamente à nova realidade.
Um dos maiores questionamentos é se conseguimos manter a qualidade do atendimento se realizado online. Fala-se sobre a perda do contato, do “face-to-face”, que seria o responsável pela construção da relação médico-paciente. Essa relação tão bem estabelecida no passado, onde o médico da família era um conselheiro e participava não só das questões de saúde, como de tudo que pudesse envolver o bem-estar físico e emocional da família, com o decorrer dos anos foi se diluindo, em meio a tantas subespecialidades e tecnologias. Algumas medidas foram tomadas na tentativa de resgatar essa relação no Brasil, como a regulamentação da medicina da família e da comunidade e a descentralização dos serviços de saúde.
No Canadá, essa retomada do médico generalista, que cuida da família inteira e estabelece a relação individualizada, já está mais consolidada – o que causa a estranheza de muitos brasileiros que chegam no país. A telemedicina também já está bem mais estabelecida e regulamentada, dando acesso à saúde aos pacientes que moram em regiões mais distantes, contribuindo para o acompanhamento de doentes crônicos e idosos, e na comunicação entre diversos hospitais em vários níveis. Por exemplo, um profissional experiente em uma área específica pode dar um parecer para um médico generalista à distância, auxiliando a decisão quanto à melhor conduta no caso.
Outro aspecto que merece ser mencionado é que as próprias relações já estavam mudando. Hoje é comum, por exemplo, um pediatra receber por WhatsApp uma foto de fralda ou de uma mancha na pele. Um contato prévio pode evitar uma ida desnecessária ao pronto-socorro, pode trazer segurança para o paciente aguardar a evolução natural da doença, como pode também orientar uma ação rápida que pode minimizar sequelas e consequências piores para o paciente.
O ponto para reflexão é que os bons profissionais continuarão sendo éticos e responsáveis com ou sem a consulta presencial, e farão o seu melhor para manter o vínculo com o paciente e construir a relação, podendo tornar a telemedicina um grande ganho para a população pós pandemia.
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