O bolso da cidade
Camila Garcia é colunista do Jornal de Toronto
Nesta época do ano, geralmente acontece a aprovação do orçamento operacional, o que para uma cidade em constante crescimento como Toronto deve acabar tirando o sono de muitos dos seus governantes. E não é sem razão, afinal, entre tantas questões que demandam atenção, decidir as principais problemáticas, e consequentemente o investimento a elas destinados, não é uma tarefa fácil.
O orçamento aprovado é de $13,53 bilhões, dos quais $11,59 provêm dos impostos sob propriedade, complementado pelas taxas de água, coleta do lixo, estacionamentos públicos, entre outros.
O comitê executivo informou ainda que 73% dos impostos são voltados à segurança pública, mobilidade e construção da cidade.
Segurança pública
Toronto é considerada uma cidade segura; no entanto, de acordo com dados oficiais da prefeitura, desde 2015 a violência à mão armada está aumentando. De janeiro a novembro de 2018 foram registrados 91 homicídios, 28% a mais quando comparado com o mesmo período em 2017.
Neste tópico, a opinião pública também parece estar deslocando-se para o apoio às iniciativas mais combativas ou agressivas, e que de certa forma nascem como reação ao medo e ansiedade. Dentre elas, está a contratação de 300 novos policiais e o investimento de $27,8 milhões para a segurança e proteção municipal.
Como a violência não nasce do nada, o prefeito John Tory diz ser importante trabalhar nos principais motivos pelos quais as populações mais vulneráveis – em especial os jovens – se envolvem em gangues e atividades ilegais. Foram destinados $6 milhões para financiar programas de redução da violência e a abertura de 8 novos centros de juventude dentro de bibliotecas públicas. Uma disparidade nos números que chama a atenção.
Mobilidade
Não é de hoje que as discussões em torno do transporte público na cidade de Toronto estão em evidência. Enquanto ano após ano procrastina-se a construção de novas linhas de metrô ou a atualização da frota de ônibus e streetcars, a vida dos moradores que dependem desses meios de locomoção se torna mais cansativa, estressante e instável.
Nas palavras do prefeito John Tory, “o orçamento de 2020 inclui o investimento mais significativo já feito para a atualização do sistema de trânsito na história da cidade”, com novo recurso de $9,5 milhões e fundo de $1,5 bilhões para a expansão da linha Bloor-Yonge.
Construção da cidade
O aumento do imposto sob a propriedade (totalizando 4,24%) foi efetivado, e é resultado do acompanhamento da inflação junto com a adição da taxa destinada ao fundo de construção da cidade (City Building Fund), que este ano teve $6,6 bilhões direcionados a transporte e moradias.
Para os proprietários, isso significa um acréscimo de imposto em torno de $128 dólares para uma casa residencial média.
De uma forma geral, o bolso da cidade está apertado, e existe uma lacuna de $77 milhões nos serviços de abrigo e assistência destinados aos refugiados. Um pedido de ajuda foi enviado ao governo federal, que ainda não se comprometeu com a verba em seu próximo orçamento federal.
Em um orçamento com capital limitado, priorizar um setor significa optar por não investir em outro. Ao se tratar de política, a gestão financeira revela muito sobre o posicionamento dos dirigentes e suas visões para o futuro da sociedade. Certas ações resultam em fraturas profundas, por onde os mais necessitados são sugados e esmagados, contribuindo para o aumento da disparidade econômica e social. Uma vez que não é possível agradar a todos, uma das únicas saídas para se quebrar esse ciclo de tapar o sol com a peneira é um investimento corajoso e concreto nos moradores da cidade e na valorização da vida.
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