Como comprar roupas baratas com a consciência limpa

Toda primavera a gente se dá conta que as roupas dos filhos não cabem mais, e que precisamos comprar tudo de novo.

Alexandre Dias Ramos é editor

Toda primavera a gente se dá conta que as roupas dos filhos não cabem mais, e que precisamos comprar tudo de novo. Onde comprar baratinho? H&M, Forever 21, Walmart, Zara, The Children’s Place, Old Navy, Joe Fresh, Gap, certo? Errado, muuuuito errado. Basta uma assistida no filme The True Cost, disponível no Netflix, ou em centenas de vídeos do YouTube, para entender por que essas lojas conseguem vender roupas tão baratas. A resposta é sempre a mesma: porque exploram o trabalho semiescravo em países menos desenvolvidos, onde a jornada diária de trabalho pode chegar a 16 horas. E, dentre os trabalhadores, inclui-se aí também crianças.

A Unicef e a International Labour Organisation estimam que 11% das crianças do mundo estão em situações que as privam de seu direito de ir à escola pela interferência do trabalho. Muitas destas crianças trabalham na cadeia de fornecimento de vestuário, para satisfazer a demanda dos consumidores na Europa e América do Norte.

Em outras palavras, a vantagem de gastar menos comprando roupas baratas significa a desvantagem de alguém em algum outro lugar do mundo. Mas como sair dessa lógica? Como quebrar as regras que a chamada fast fashion nos impõe? Uma das respostas está em comprar, frequentar e apoiar locais como o Value Village, onde você pode conseguir, a preços baixíssimos, roupas novas e usadas doadas por pessoas como você, que não precisam das roupas que não servem mais nos filhos.

É verdade que no Value Village se encontra muita coisa velha e desgastada; por outro lado, há também roupas ainda com a etiqueta. Chegam novos produtos o tempo inteiro, o que significa que a cada dia há roupas diferentes para descobrir. E não apenas roupas: tem sapatos, brinquedos, cintos, casacos, copos, vasos, tacos de golf… Precisa de uma batedeira? É possível achar por $8.99.

Ainda que muitas daquelas roupas sejam de marcas irresponsáveis, comprá-las de segunda-mão cria uma mudança significativa nas regras do jogo. Há uma sobrevida para as peças de roupa, há mais acessibilidade para quem precisa e há, antes de tudo, um desincentivo em comprar diretamente dessas lojas da indústria do consumo descartável.

Mas se você ainda quiser comprar suas roupas numa loja bonitinha, também pelo prazer do passeio e da experiência de compra, a sugestão é sempre prestigiar comércios locais, pequenas lojas de seu bairro e de sua comunidade. Assim, a nossa vantagem vira também a vantagem de todos.

Sobre Alexandre Dias Ramos (27 artigos)
Alexandre é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador da Universidade de São Paulo. É editor há 20 anos e mora em Toronto, Canadá.

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