Retomada do Canadá pós-vacinação ainda é lenta

Desemprego, inflação e desabastecimento estão na pauta

Image: Gerd Altmann.

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto

O Canadá pode se orgulhar de seus índices de vacinação conta o Covid-19. De acordo com dados oficiais coletados até 6 de novembro e divulgados no dia 15 de novembro, 84,96% da população acima de 12 anos (28,4 milhões de pessoas) está completamente vacinada, e 88,73% deste grupo (29,7 milhões de pessoas) obteve pelo menos a primeira dose. Apesar de ser muito mais do que os 58,8% de brasileiros completamente vacinados (125,5 milhões do total de pessoas), não quer dizer que a economia canadense esteja avançando no mesmo compasso. A expectativa de que com o avanço da vacinação se regressasse ao “normal”, ou próximo dele, ou a um novo normal no segundo semestre deste 2021, acabou não se concretizando.

Não só a pandemia não acabou, como a Europa enfrenta agora um novo surto. No Canadá, para os vacinados ainda é necessário o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização frequente das mãos, além do passaporte de vacinação ter se tornado corriqueiro para ingressar em diversos locais. Portanto, nada mudou muito na prática, fora a redução nas internações hospitalares e as mortes pelo Covid. Seguimos ainda em estado de alerta, que parece ser maior do que o do Brasil, onde se registraram congestionamentos nas rodovias que levam ao litoral no feriadão da Proclamação da República.

Se no estado de São Paulo as restrições chegaram ao fim em 1º de novembro, com volta das baladas, festas e shows com capacidade máxima e sem limite de horário ou espaço, a maior província do Canadá, Ontário, anunciou em 10 de novembro uma pausa nos planos de reabertura. Por pelo menos mais quatro semanas, os limites de capacidade em locais de alto risco, que eram para acabar em 15 de novembro, serão mantidos. Entre eles, locais onde se pode dançar e boates de strip.

Entre as razões apresentadas pelo governo de Ontário, está o aumento na média semanal de casos, de 379 para 502. Uma das preocupações está com os eventos esportivos, que chegaram a reabrir sem exigência de vacinação e testagem prévia, fazendo com que frequentadores contraíssem Covid, mesmo em espaço aberto. Pessoas com sintomas também não fizeram testes e mesmo assim foram à escola e outros locais. A existência desses casos é mais um fator para quem está trabalhando em home office se apegue ainda mais ao conforto que ele proporciona, deixando os centros urbanos pouco ocupados.

A expectativa dos economistas era de que fossem criados ao menos 50 mil vagas com o afrouxamento das restrições e o avanço da vacinação, mas o Canadá conseguiu apenas 31 mil novos postos de trabalho em outubro de 2021, um número classificado como medíocre pela imprensa – e certamente um indicador de que a recuperação da recessão causada pela pandemia ainda é muito lenta. Assim, o desemprego baixou apenas dois décimos percentuais, de 6,9% para 6,7%. Neste momento, o mercado financeiro, assim como os consumidores, tem como principal preocupação a inflação, dizem os analistas. Como se não bastasse, o desabastecimento de insumos e o aquecimento global também estão na pauta do dia dos economistas.

A expectativa de uma retomada mais expressiva, portanto, fica para 2022, ano em que deveremos tomar mais doses de reforço da vacina, em uma tentativa de controlar de vez o Covid-19. Enquanto isso, especialmente os que ainda sofrem com as perdas da pandemia, lutam para manter seu equilíbrio mental e buscar forças para chegar ao fim do túnel. Os setores mais prejudicados, como os ligados às artes, ao turismo e ao lazer, ainda se recuperam a passos lentos. Ainda é preciso mais uma dose de paciência e de perseverança até chegarmos a dias melhores.

Sobre José Francisco Schuster (74 artigos)
Com quase 40 anos de experiência como jornalista, Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Ao longo dos últimos 10 anos, tem produzido programas de rádio para a comunidade brasileira no Canadá, como o "Fala, Brasil" e o "Noites da CHIN - Brasil". Schuster agora comanda o programa "Fala Toronto", nos estúdios do Jornal de Toronto.

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