2 _ A América do Norte
Rodrigo Fessel Sega é sociólogo pela Unicamp
Da série “Amanda Pro Canadá”
Amanda já havia tido um blog em sua juventude, no começo dos anos 2000; à época, o formato chamava-se “fotolog”, uma espécie de blog, mas apenas com imagens – o avô do Instagram. Quando completou 19 anos, e fez o intercâmbio em Nova Iorque, decidiu relatar sua experiência na rede. No primeiro mês, recheou o fotolog com fotos do final do verão e começo do outono. Suas amigas de escola entravam e comentavam em suas postagens, e ela mandava cartões postais dos lugares onde estava visitando. Nos outros quatro meses, o acesso das amigas caiu e ela também deixou de mandar notícias por correio, passando a utilizar, principalmente, o telefone. Naquela época, ela tinha um namorado que conheceu no final do colegial. Amanda ligava casualmente para ele, mas, quando voltou, já estavam sem se falar há 40 dias.
No seu penúltimo dia na cidade, Amanda passou por uma banca de revistas. Ela se lembrou de sua mãe, que lia, atentamente, nos fins de tarde, naquela cidadezinha do interior de São Paulo, sobre montanhas e ruas famosas do mundo. No final da década de 90, a grande fonte de inspiração para viagens internacionais era mesmo as revistas e guias de viagens vendidos em bancas que sua mãe gostava de comprar.
Naquele dia, Amanda viu uma dessas revistas e decidiu levar de presente a ela. Na capa, havia uma imagem das Torres Gêmeas e algumas dicas do que fazer em Nova Iorque. Dentro, um especial com as cinco melhores cidades para se visitar no Canadá. No voo de volta, Amanda descobriu que tinha uma parte do Canadá (Montreal), onde se falava francês, e outra cidade (Ottawa), a capital do país, onde um rio congelava e as pessoas patinavam no gelo durante os meses de inverno. Amanda teve a sensação de que nunca iria voltar ao Brasil verdadeiramente.
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