Humanização: retroceder para evoluir

Historicamente, o papel do médico era o de cuidar de todas as questões de saúde da família, físicas e mentais

Foto: Francisco Àvia.

Gui Freitas é colunista do Jornal de Toronto

Historicamente, o papel do médico era o de cuidar de todas as questões de saúde da família, físicas e mentais, conhecendo cada um pelo nome e por suas características, valorizando as crenças pessoais, e era até aconselhando sobre assuntos diversos. Respeitado por todos, fazia o diagnóstico com poucos recursos, e tinha seus sentidos (visão, olfato, tato e até intuição) como seus aliados.

A medicina foi evoluindo de forma acelerada, incorporando novas tecnologias no diagnóstico e tratamento de inúmeras patologias, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes. Contudo, à medida que evoluem as técnicas, mais sub-especialidades emergem e a saúde baseada em evidencias estabelece o seu papel na proficiência do cuidado, os profissionais estão perdendo um fator crucial, e tão importante quanto o conhecimento técnico: a humanização do cuidado.

A humanização permeia pelo acolhimento, a gestão participativa, a ambiência, a clínica ampliada e compartilhada, e a valorização dos profissionais. No Brasil, temos o Humaniza SUS para tentar estabelecer essas diretrizes. No Canadá, o Patient Centered Care. Mas o que isso significa na prática?

O atendimento humanizado, com o paciente como centro e foco do cuidado, é muito além de saber dar um diagnóstico e propor um tratamento. É olhar nos olhos e ler o que não foi dito. É tocar na mão e levar conforto. É olhar o paciente como um todo, inserido em um contexto sócio-econômico cultural, e compreender seus medos e suas dificuldades. É se importar com o quanto o paciente acessa sobre o seu problema e o quanto ele se compromete em colaborar, falar de uma forma que seja compreendido. É dar suporte, caminhar junto, sentir-se seguro e acolhido.   

Humanizar a saúde é uma forma de trazer empatia, respeito e confiança à relação cuidador-cuidado. Voltar ao princípio, onde o profissional tinha um dever tão grande quanto a sua responsabilidade. Reaprender que somos humanos. Usar a tecnologia a nosso favor, mas não permitir que ela nos transforme em máquinas ou nos defina pela falta de sentimento.

Sobre Gia Freitas (17 artigos)
Gia é brasileira, médica pediatra, esposa e mãe de dois filhos. Vivendo em Toronto, na eterna jornada do auto-conhecimento. Apaixonada e idealista, tem na leitura seu refúgio e na escrita sua liberdade.

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