Canadá exige amadurecimento do Brasil para investir mais
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
O Canadá investe hoje US$30 bilhões no Brasil, e gostaria de aumentar este valor em 20% ou mais, afirmaram fontes diplomáticas do Canadá no Brasil. Fundos de pensão e empresas canadenses aplicam recursos em áreas que vão do saneamento à mineração, mas, para avançarem, esperam que o Brasil dê segurança jurídica aos contratos, melhore sua gestão ambiental e reveja sua política fiscal. Ou seja, faça a “lição de casa” obrigatória para qualquer país se apresentar como confiável.
O que vimos recentemente, entretanto, é o Brasil ir na direção contrária, com uma ingerência política do governo na administração da Petrobras. O ataque à principal empresa da Bolsa de Valores brasileira naturalmente causa um efeito dominó, com muito mais do que uma perda de valor de bilhões de dólares na estatal da qual o Brasil inclusive é o principal acionista: caem as ações de muitas outras empresas e a própria Bolsa, enquanto dispara o dólar e, de arrasto, a inflação.
Com atitudes surpreendentes como esta, no desejo de frear o aumento dos preços dos combustíveis, ditados pelo mercado internacional e pela alta do dólar, acaba gerando-se o efeito contrário. Ao espantar os investidores estrangeiros, priva o Brasil dos necessários dólares e dos decorrentes investimentos. A intervenção abrupta em uma empresa vital para o país cria a imagem no exterior de uma democracia frágil, onde as regras do jogo podem ser mudadas a qualquer momento, podendo atingir qualquer um. Assim, a imagem de confiabilidade que o Brasil vinha lentamente criando como membro do Brics se esfarela para os investidores estrangeiros.
Outro requisito dos investidores é a sintonia com a atualidade: Biden está eleito, os Estados Unidos voltaram ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas e, portanto, a atenção ao meio-ambiente e ao aquecimento global estão na ordem do dia. Apesar disso, o Ibama e sua fiscalização seguem totalmente enfraquecidos, com o desmatamento da Amazônia avançando a passos largos: a ordem é fechar os olhos para que a agricultura, a pecuária e a mineração descontroladas derrubem a floresta.
O Canadá, que estava interessado em uma parceria com o Mercosul para diversificar seus negócios, acaba em situação incômoda ao confrontar sua pauta ambiental com uma região sem compromissos. ONGs como o Greenpeace estão atentas para impedir que o governo do Canadá ignore este fator. Ou seja, a política fora do compasso mundial na área ambiental acaba impedindo negócios em todos os setores da economia de todo um grupo de países.
Um Congresso Nacional que parece sem rumo, com integrantes que atentam contra a própria democracia a que foram eleitos para defender, também afeta duramente a reputação do Brasil. Deputados e senadores que mais parecem interessados em vender seu apoio ao governo em troca de dinheiro para seus projetos – os quais acabam muitas vezes nos seus próprios bolsos ou cuecas –, impedem que o tempo seja ocupado com pautas produtivas, enquanto velhos problemas se arrastam por décadas.
Com o seu potencial de riquezas naturais e de recursos humanos, o Brasil precisa parar de ser visto com a imagem exótica de um país colonial, quando na verdade possui diversas iniciativas científicas e tecnológicas de ponta. Para isso, contudo, é preciso políticos que se preocupem com que o país seja bem-visto internacionalmente, inserido na globalização, sem senões a desabonar.
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