A Companhia Runchey: o Batalhão Negro que salvou o Canadá na Guerra de 1812

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Pintura "A Morte de Isaac Brock", de John David, retratando a Batalha de Queenston Heights no Fort George.

André Sena é doutor em História Política pela UERJ

Da série “Flashes da História Canadense

O início do século XIX na história das relações internacionais atlânticas é marcado por uma nova correlação de forças entre velhas e novas potências mundiais: a França napoleônica, a Inglaterra e o nascente Estados Unidos da América aparecem na cena mundial como os principais atores nesse jogo de poder.

Por razões de natureza política e comercial, entre 1812 e 1814 Inglaterra e Estados Unidos travaram uma guerra que se tornaria um elemento essencial na memória histórica canadense: a Guerra de 1812. Se fizermos uma visita a Niagara-on-the-Lake poderemos ver ainda traços bem vivos dessa guerra.

Imagem do Fort George.

Um dos aspectos mais interessantes de 1812 foi a atuação da Runchey’s Company of Coloured Men [Companhia Runchey de Homens de Cor], apelidado mais tarde de Black Corps pela historiografia canadense. Formado por homens negros livres e ex-escravos desde 1793, esse modesto mas decisivo exército de homens negros canadenses desempenhou um papel heroico nas duas principais batalhas de 1812. Na Batalha de Queenston Heights, participaram na criação de uma linha de defesa incontornável, que impediu a incisiva norte-americana, frustrando a tomada da cidade de Queeston, na escarpa de Niágara.

“Black Soldier”, do pintor Robert Marrion, representando Pierpoint. Beaverbrook Collection.

Na Batalha de Fort George, uma fortaleza ocupada provisoriamente pelo exército dos Estados Unidos, o Batalhão Negro produziu lideranças fundamentais para a história militar negra canadense, como o capitão Richard Pierpoint, curiosamente apelidado por seus comandados de Black Dick. Graças a sua liderança inspiradora (tragicamente pouco reconhecida) já com a idade de 68 anos, os canadenses conseguiram impedir que a invasão americana chegasse a Toronto em 1813.

A participação do Batalhão Negro neste conflito foi de natureza essencial para o que poderíamos chamar de “laboratório da nação”. A experiência das diversas comunidades do Alto e Baixo Canadá na Guerra de 1812 (Métis, Negros legalistas, Povos Originais aliados aos Britânicos) seriam um passo importante na formação do país e ainda hoje são uma memória viva em monumentos históricos e lugares de memória por todo o Canadá.

“Geat guns have shot and shell, boys, / Dragoons have sabres bright. / The artillery fire’s like hell, boys, / And the horse like devils fight.” (canção folclórica sobre 1812)

Sobre André Sena (16 artigos)
André Sena é Doutor em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, professor de História e Relações Internacionais e atualmente desenvolve pesquisa sobre Relações Diplomáticas Brasil-Canadá e História do Brasil Contemporâneo.

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