Buscar emprego é um trabalho duro

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Embora a taxa de desemprego no Canadá seja oficialmente de 5,8%, enquanto a do Brasil é de 11,8% – ou seja, o dobro –, não se deve criar ilusões de que encontrar um emprego fora dos considerados “de sobrevivência” será fácil. Tanto que qualquer feira de empregos é superlotada e mais de 250 brasileiros compareceram ao evento Emprego no Canadá: Superando Barreiras em novembro, organizado pelo Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário, Networking para Brasileiros – Toronto e Believe Brazil, com apoio do Jornal de Toronto.
Recheado de informações valiosas, ficou claro que a busca de emprego requer muita dedicação em tempo integral, como se fosse um trabalho. É algo que deve ser feito com planejamento e estratégia, pois o tempo em que simplesmente se telefonava respondendo a ofertas em classificados de jornal ficou no passado. Hoje a competição é imensa, com centenas de candidatos por vaga (eu disse centenas, como nos concursos públicos do Brasil), a ponto de em muitos casos a triagem inicial de currículos ser delegada a um computador, que buscará as palavras-chaves requeridas pela empresa. Só os que passam por esta peneira inicial chegam às mãos de um recrutador humano, que por sua vez tem poucos segundos para se encantar com o currículo ou jogá-lo na lixeira.
Fica claro, portanto, que o currículo (aqui chamado “resume”) e a carta de apresentação (“cover letter”) têm que estar não só perfeitos, como também adaptados à vaga anunciada, em um trabalho minucioso, que toma tempo do candidato. Um especialista que o oriente nisto é importante, e a província de Ontário oferece gratuitamente conselheiros, através de várias instituições, para ajudar nesta tarefa, através do programa Employment Ontario (www.ontario.ca/page/employment-ontario).
Os conselheiros também auxiliam na preparação para a próxima etapa, a entrevista de emprego, inclusive com treinamento, já que também é necessário desempenho perfeito nesta fase. Como mencionaram os palestrantes no evento do Concid, os brasileiros têm boa formação (hard skills), mas também é essencial demonstrar ter incorporado a cultura canadense, com seus comportamentos e competências (soft skills), para não ficarem para trás em relação aos nascidos aqui.
Para não ser uma agulha no palheiro, porém, é necessário mais esforço. Como 80% das vagas são preenchidas por indicação, sequer chegando à internet, é necessário montar uma boa rede de relacionamentos, o networking, para que alguém que lhe conhece – e confie – lhe indique. Mais difícil para quem é imigrante, por chegar sem conhecidos ao país, a rede começa comparecendo a eventos na sua área de atuação e com o voluntariado. Isso possibilitará construir um Linkedin com contatos canadenses, em vez de brasileiros, onde também é essencial uma participação ativa, como ferramenta essencial que se tornou.
Outro fator a ser seriamente considerado é uma formação em College ou universidade canadense, pois por mais que sua instituição no Brasil seja famosa, ela é desconhecida no Canadá. Um curso aqui obviamente também ajuda no networking e pode incluir um estágio (placement) ao final que, se não levar à vaga, pelo menos servirá como a essencial “experiência canadense”.
Portanto, imensos desafios; mas quem já conseguiu passar por todas as barreiras e ser aprovado como imigrante no Canadá ao menos não enxerga como novidade.
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