Pequenas atitudes constroem um grande país
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Dinheiro ajuda a trazer conforto, com certeza, mas é sabido que não é tudo na vida. E assim como as pessoas mais ricas não são necessariamente as mais felizes, um vultoso orçamento não é garantia de um bom governo. Um governo, para que seja exitoso e leve bem-estar à população, precisa acima de tudo de princípios éticos, de um programa bem estruturado, elaborado por profissionais qualificados e uma moral onde o objetivo seja o bem de todos, e não um mero levar vantagens pessoais dos próprios políticos e de seus apoiadores de campanha. Um governo moderno necessita ser inclusivo, abrangendo toda classe de cidadãos, com suas mais diversas necessidades, e respeitando-os em sua individualidade, sem preconceitos nem discriminação por classe social, gênero, orientação sexual, raça, deficiências e assim por diante.
O Canadá, certamente, ainda tem um longo caminho a avançar, mas são visíveis indicativos de que acerta mais do que erra, com iniciativas de destaque em todo o mundo. Três recentes fatos demonstram que é necessário muito mais ter atitude do que recursos financeiros para avançar. São três medidas de pequeno custo, mas de um impacto que tomou as manchetes do mundo inteiro.
A primeira é o banimento em 2021 – daqui a apenas dois anos – de plásticos de uso único, como sacos plásticos, garrafas de água e canudos, inspirando-se no modelo da União Europeia, já que a reciclagem atingem menos de 10% deste material. O primeiro-ministro Justin Trudeau observou que anualmente mais de um milhão de pássaros e mais de 100 mil mamíferos marinhos se ferem ou morrem por ficarem presos em meio a dejetos plásticos ou por comê-los, confundindo-os com alimentos.
Outra medida é a proibição da captura e criação de cetáceos, como baleias e golfinhos, decisão elogiada pelos ativistas de defesa dos animais, que ponderam com o sofrimento a que ficam submetidos os animais, vivendo em pequenos tanques apenas para entretenimento humano. É uma medida progressista já adotada inclusive por países latino-americanos, como Chile e Costa Rica.
O Canadá encomendou, ainda, um estudo sobre as causas da violência contra as mulheres indígenas, para buscar recomendações de medidas públicas e formas de prevenção. Para isto, foram ouvidas mais de duas mil testemunhas, incluindo sobreviventes de violência e seus familiares. Produzido em três anos, o relatório de 1.200 páginas apresenta mais de 200 recomendações, mas, principalmente, faz com que o Canadá admita ter sido cúmplice de genocídio racial de mulheres indígenas.
Atitudes simples e de baixo custo, mas que demonstram o patamar moral de um país. Que sirva de exemplo.
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