Não dá pra esquecer o Galo Toronto

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Ilustração de Valf.

Cristiano de Oliveira é colunista do Jornal de Toronto

Antes de falar que eu sou bairrista, tenha calma. Não sou não, viu? Inclusive quando tem que malhar BH eu não recuo. Mas hoje estou aqui no mais puro espírito cristão pra fazer justiça, pois fui informado que uma reportagem recente sobre torcidas de times de futebol brasileiros em Toronto sequer chegou a mencionar o Consulado Galo Toronto. Aí não… Aí você causa tumulto na minha barraquinha.

Quando eu cheguei a Toronto, a internet só permitia escutar jogo de futebol, e olhe lá. Você precisava conectar meia hora antes do jogo começar, pois as rádios online não aguentavam muita gente. Se chegasse tarde, não conectava mais. E quando a conexão caía no meio do jogo, você ficava lá tentando voltar: aperta botãozinho, “tente mais tarde”, aperta de novo, “tente mais tarde”… Repita 600 vezes até um macabeu cair também e você pegar o lugar dele. Depois, com o auxílio de 450 antenas parabólicas, começaram a chegar os sinais de TV com um joguinho aqui, outro ali. Só dava pra ver no bar, e eu nunca sabia em qual bar o povo se reuniria. Quando o time foi campeão em 2005, andei pela Dundas no frio, vestido só de calça e camisa do Galo, pra ver se achava a torcida em festa. Rá! Tá bom… Tudo que eu achei foi gripe. Mas com o passar do tempo, foi ficando mais fácil para os bares se equiparem com canais brasileiros, e as torcidas se misturavam pra ver os jogos. Era muito bacana assisti-los com torcedores de todos os times juntos. Sempre me senti respeitado, afinal, quando um cara chega a um bar cheio de cruzeirenses com uma crista do Galo na cabeça, o povo respeita porque mexer com doido pode ser perigoso.

Hoje torcedores se reúnem com facilidade, e pra nós foi fundado o Galo Toronto, que não é bem uma torcida organizada, mas sim um consulado atleticano: uma representação local do time, que visa criar um ambiente menos arquibancada e mais família pra reunir torcedores e assistir aos jogos, abrindo inclusive as portas para torcedores de todos os times. O nosso consulado possui 195 pessoas inscritas, o que é muito para torcidas fora do Brasil, e um consulado desse tamanho dá trabalho e é carregado nos braços dos voluntários: é preciso ter um bar pra ver os jogos, controle de presença, monitoramento dos grupos de Whatsapp, relações com outros consulados, com a diretoria do clube, organização de eventos, design e produção de produtos licenciados, contabilidade… É muita coisa, mas vale a pena, afinal, é o mais perto que dá pra chegar daquela saudosa emoção de torcer no estádio. Bom, é fato que o time do Galo não tem providenciado muito o que ser comemorado, mas atleticano é na saúde e na tristeza, na alegria e na riqueza. Ou algo parecido, não sei. Quando o padre falou eu já estava meio de fogo.

Fica aí então o registro de uma torcida batalhadora que não pode deixar de ser mencionada quando o assunto é futebol brasileiro no exterior. Se você é atleticano em Toronto e está sozinho, sofrendo, só dando trabalho em casa e fazendo raiva em vizinho… Procure por Galo Toronto nas mídias sociais e venha se curar dessa abstinência de estádio.

Adeus, cinco letras que choram.

Ilustração de Valf.

Sobre Cristiano de Oliveira (30 artigos)
Cristiano é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

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