“Eu resisto e não me deixo calar”
Jornal de Toronto – Você transita muito bem entre os gêneros, e divulga fotos suas tanto como mulher como homem, mostrando às pessoas como essas barreiras são relativas e, no fim das contas, não fazem mais sentido na sociedade de hoje. Por outro lado, você vive num dos países mais violentos do mundo para a comunidade LGBTQ.* Como você lida com as ameaças e a violência no Brasil?
Pabllo Vittar – Eu resisto e não me deixo calar. Sou o que sou e as pessoas precisam me aceitar assim, precisam parar de enxergar a partir dos olhos estereotipados dos outros e verem por si mesmas, através de seus próprios olhares. O ódio, as ameaças, vêm de um senso comum, de um sentimento de aversão gratuito. Por isso, não vou desistir nunca, nem eu e nem minha comunidade.
* Segundo a organização Transgender Europe, mais de 1/3 de todas as mortes de travestis e transexuais no mundo acontecem no Brasil.
Jornal de Toronto – A partir de uma visão de fora, por sua experiência e importância no cenário internacional, você vê algum caminho para fazer a sociedade brasileira se tornar menos preconceituosa e mais tolerante?
Pabllo – Eu não enxergo mudanças consideráveis tão cedo, infelizmente. É cultural, enraizado e não vai mudar de um dia para outro. Com informação, luta, resistência e voz, tento semear mudanças, porque de pouco em pouco acredito que as melhorias acontecem – como já estamos vendo. E não digo isso apenas por mim, mas por minhas colegas cantoras e por toda nossa comunidade.
Jornal de Toronto – Há videoclipes seus que chegaram a mais de 449 milhões de visualizações, e você tem 8,4 milhões de seguidores no Instagram e mais de 5,5 milhões de seguidores no YouTube. Como você vê o reconhecimento e, ao mesmo tempo, a responsabilidade do seu trabalho, sendo uma das drag queens mais conhecidas no mundo?
Pabllo – É um reconhecimento que me deixa feliz e ciente de que meu espaço deve ser usado para debate, informação, resistência, e é isso que faço e não pretendo parar.
Jornal de Toronto – Você estará em turnê pela América do Norte (Los Angeles, Boston, Miami, Chicago, Toronto, Nova Iorque e São Francisco). Como foi o convite para a Pride Toronto?
Pabllo – Foi um convite feito através do contato da organização com meu empresário. Fiquei feliz e espero que as paradas tenham cada vez mais evidência e força – ainda mais do que já possuem. Fazer parte dessa história me emociona e me faz lembrar de tudo o que vivi até hoje.
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