Notícias da Baixada
Cristiano de Oliveira é colunista do Jornal de Toronto
E mais uma viagem ao Brasil se deu. Mesmo sabendo que todo mundo está brigado e quaisquer eventos em grupo podem ocasionar eventuais mãozadas nas orelhas, eu não quero saber. Natal é com vó desde que nasci e não é agora que eu vou quebrar a corrente, especialmente sendo abençoado o bastante por ter uma família sem desavenças políticas, o que é muito raro hoje em dia. Foram vários amigos que vi em BH passando o Natal sozinhos por causa de briga na eleição.
Mas vou ser muito honesto: voltar ao Brasil já não é a mesma coisa. E não incluo nisso o lado familiar, que é sempre muito bom e muito gostoso. Nem aquelas coisas que sempre causam uma dorzinha no emigrante que retorna pra visitar, como ver as pessoas envelhecendo, crianças que já não conhecem a gente direito, um amigo ou parente que se foi, ou um lugar de boas lembranças que já não existe mais. Isso é inevitável, é o preço-base da emigração. Daí vêm os upgrades que também são só avacalhação: a rua que era mão dupla agora é contramão e você leva multa; você vê um cara coçar a bunda e acha que tá puxando revólver, etc.
O problema é que o tempo passa, e eu não aprendi a ser velho no Brasil. Quando a gente chega na casa dos 40, não existe amigo solteiro mais por lá. Nas ruas e bares, esses amigos estão sempre acompanhados do digníssimo cônjuge, sentados bem quietinhos numa mesa lá do fundo, sem fazer diferença no mundo e assistindo a juventude fazer bagunça, pois no Brasil não é de bom tom ser um velho bagunceiro, e pior ainda desacompanhado. E não, essa percepção depressiva não piorou quando cheguei a um bar e a garçonete disse “vou colocar sua mesa mais aqui no canto pros meninos não ficarem esbarrando nela”. Doeu, mas não piorou. Só fiquei encucado se a preocupação dela era só mesmo de que a pujança da juventude prejudicasse minha quietude e bem-estar, ou se estava mesmo é com medo de eu cair e quebrar a bacia.
De quebra, algumas notinhas curtas que observei na minha também curta estadia:
- Maior que a dor de pagar R$11 reais numa garrafa de cerveja é a de pagar R$10 num chopp de 300ml servido em copo lagoinha tamanho G – pra você que não é de Belo Horizonte, o copo lagoinha é aquele Nadir Figueiredo listradinho. Alguns o chamam de “copo americano”, mas acho que é só mesmo pelo amor louco do brasileiro por americanos, porque eu já revirei os EUA e nunca vi um daqueles, muito menos com cerveja dentro.
- A campanha eleitoral em Belo Horizonte está pegando fogo! Dois candidatos disputam o cargo, e nunca houve candidatos com tanto material de campanha como esses dois: eles têm cartaz em todo prédio, toda casa, todo lugar. Resta saber quem vai ganhar esse pleito tão concorrido: ou o Vende-se ou o Aluga-se. Pelo que li nos cartazes, acho que os dois são do Partido Tratar Com o Proprietário.
Não acabou não. Eu só vou uma vez ao ano pra lá, então a viagem tem que render pelo menos duas colunas, senão me quebra.
Adeus, cinco letras que choram.
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