Questione sempre e evolua

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Foto: Uwe Baumann.

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto

Uma das mais belas fases do desenvolvimento humano, para mim, é a idade dos porquês, entre os três e quatro anos de idade. É o período em que a criança começa a descobrir o mundo que a cerca e a questioná-lo. Uma minoria de pais inteligentes fazem muito bom uso dela, não só dando respostas adequadas, mas aproveitando para questionar a si próprios sobre o que já virou rotina.

Para a maioria das crianças, no entanto, é a fase de descobrir a ira dos adultos, raivosos com tantos questionamentos, por diversas razões. Ou se sentem ocupados para dar atenção à criança, ou não sabem e não querem buscar uma resposta, ou, pior, não querem se questionar por que algo é de determinada maneira. E aí vem respostas absurdas, menosprezado a inteligência das crianças, ou malcriadas e ofensivas, ou os malditos “porque sempre foi assim” ou “porque sim”.

Esses adultos que fogem dos questionamentos são assassinos do presente e do futuro, não revendo suas posições atuais e fazendo com que os pequenos se tornem igualmente não-questionadores e virem massa de manobra.

Claro que dói responder por que colocamos comida no lixo, por que não separamos o reciclável e por que a empregada não tem carro como nós. Mas é preciso engolir em seco e enfrentar cada porquê recebido, e aprender com eles.

Neste momento de eleições no Brasil e no Canadá, talvez uma das perguntas difíceis com que os adultos se deparam é dar um porquê sobre quais candidatos decidiram votar. Talvez o motivo seja o de muitos adultos considerarem votar algo chato, uma obrigação da qual querem se livrar o mais rapidamente possível. Assim, os candidatos são escolhidos em cinco minutos, sem reflexão alguma, sem analisar histórico, programas partidários, nada. “Os homens de terno na TV sempre dizem que este é o melhor candidato”, pode ser a resposta que a criança receba. Afinal, assistir o horário eleitoral é o pior castigo que se pode ter. Ainda se pode simplesmente votar em branco ou anular o voto e a obrigação está cumprida. E viva o Canadá, onde o voto não é obrigatório. “Eu, ainda ter que entender de política canadense, em inglês ou francês? Nem pensar! Não vou e pronto.”

Os adultos, tão infantis, não se dão conta que votar é a única chance que se tem na vida de escolher seus próprios chefes. Você, que suou em tantas entrevistas de emprego para ser chamado, quando é sua vez vai no uni-duni-tê? É a oportunidade de comportar-se como recrutador profissional e verificar com cuidado quem vai fazer um bom trabalho ou botar fogo na casa, ou seja, na sua própria vida, fazendo dela um inferno, com consequências até para seus filhos e netos. Votar mal ou alhear-se é dar oportunidade para que aquele bando de malas-sem-alça do outro departamento contratem um que seja cupincha deles.

Tire, então, um tempo para escolher com cuidado bons candidatos. E seja capaz de mostrar a uma criança que você usou critérios racionais, não emocionais. Elas sim lhe agradecerão de coração, por sua paciência em explicar e por dar a elas um futuro melhor.

Sobre José Francisco Schuster (68 artigos)
Com quase 40 anos de experiência como jornalista, Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Ao longo dos últimos 10 anos, tem produzido programas de rádio para a comunidade brasileira no Canadá, como o "Fala, Brasil" e o "Noites da CHIN - Brasil". Schuster agora comanda o programa "Fala Toronto", nos estúdios do Jornal de Toronto.

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