Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos
Angela Alonso é professora de sociologia da USP e presidente do Cebrap
O “conservadorismo” é o movimento de defesa de costumes, valores e hierarquias da sociedade tradicional. Conformou-se junto e em reação à modernidade, com adeptos em toda parte e de muitos naipes. Conservadores para todo gosto: os devotados à moralidade e os aferrados à economia; confessionais e midiáticos, os que preferem as urnas e os que elegem as armas.
Nada disso é recente. O fenômeno está aí há mais de dois séculos, lançando raízes, espalhando rama. Mas é notável sua visibilidade recente em ruas e mídias, como seu sucesso eleitoral mundo afora.
Acostumado desde a Redemocratização a manifestações de esquerda, o Brasil vem se surpreendendo com o vigor com que o outro lado se lançou ao combate do status quo pós Constituição de 1988. Vê, por exemplo, políticas de Estado (caso de programas redistributivos) como fonte de disfunções na gestão da coisa pública, e a efetivação de leis protetoras de direitos de minorias (vide casamento entre pessoas de mesmo sexo) como atentado à família.
Neste livro, autores de variadas orientações e disciplinas, recortam pedaços do iceberg: políticas públicas e artes, parlamento e protestos, dimensão internacional e difusão local. O efeito é de mosaico. Facetas se sucedem, sem se sobrepor por completo. Avistam-se complementaridades e descompassos.
Sem pretensão de aprisionar o assunto em fórmula, os ensaios registram uma eloquente complexidade, estampada na abundância de designações: “direita”, “fascismo”, “reação”, “anticomunismo”, “fundamentalismo”. O conservadorismo emerge segmentado e plural. Como deus e o diabo, responde por vários nomes e ostenta suas múltiplas faces.
Texto de orelha do livro Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos: análises conjunturais, organizado por Ronaldo de Almeida e Rodrigo Toniol, que é colunista do Jornal de Toronto.
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