A saída para a classe média
Alexandre Dias Ramos é editor
A informação de que a taxa de desemprego no Brasil subiu novamente – são agora 14,3 milhões de desempregados, segundo o IBGE (jan. 2021) – só mostra que a população, de modo geral, está vivendo pior. Grande parte do problema, como sabemos, é a corrupção, que afeta os investimentos públicos e as estruturas que deveriam mover o país. Mas isso é apenas a casca de questões mais profundas, pois a corrupção é também uma consequência das diferenças sociais e do individualismo característico da cultura brasileira. No fim das contas, individualismo é o cerne da corrupção (tirar o dinheiro do outro em proveito próprio).
Outro problema vem da ideia, muito difundida desde os governos Vargas e JK, de que o investimento massivo no setor secundário (indústria) resolveria todo o problema dos trabalhadores – como se o ideal de vida para um cidadão pudesse se resumir a trabalhar numa fábrica de carros. Um pouco por conta disso, nunca houve um interesse real dos governos em investir na área cultural e intelectual, de forma séria e consistente. Vemos a penúria de nossas universidades públicas, a falta de material nos laboratórios de pesquisa, a falta de apoio nos setores editorial e audiovisual, no turismo, patrimônio histórico, etc. (Vale aqui um parêntese, para quem se lembrou da Lei Rouanet, que foi criada como uma forma – efetiva, é verdade – de realocar recursos públicos na cultura, mas a partir da lógica de marketing das empresas que obtêm a isenção fiscal, ou seja, sem a participação de uma política pública de governo. Em outras palavras, o governo se absteve de ter de administrar a cultura.)
O fato é que nos foi ensinado que o crescimento do Brasil e a qualidade de vida da população deveria ser medida através dos índices econômicos e gráficos mostrados no telejornal. Ainda que a compra do supermercado esteja cada semana mais cara, ainda que o condomínio suba todo mês, se os índices forem bons, todos se sentem satisfeitos.
E então quando o índice vai mal, a leitura dependerá de qual lado você estiver. Dependendo do “time de futebol” para quem se torce, o lado direito ou esquerdo do campo, um time acha tudo péssimo e o outro acha tudo ótimo; se inverter, ainda que os números sejam os mesmos, todo mundo achará o contrário.
Ora, isso não ajuda muito nenhum dos lados, porque a vida de todos precisa ser boa, não importa o time ou partido que se prefira. O que tem faltado, então, é um entendimento menos carregado de emoção – em nossos tempos, de ódio – para que a população pare de olhar apenas para seu próprio grupo e possa começar a se preocupar com o país.
A classe média trabalha horrores, mal consegue pagar as contas no final do mês e geralmente possui dívidas (no cartão de crédito, principalmente, mas também na parcela do carro, da casa e do aparelho novo de celular). A verdade é que, independente dos índices econômicos, a classe média tem ficado mais pobre a cada dia. Com o desemprego subindo, o caminho é… para baixo.

É preciso olhar para o tamanho do buraco em que todos estão. E por isso, a falta de apoio aos mais pobres é um ponto muito importante a ser considerado. O Brasil é dos poucos países onde a classe média não apoia a classe baixa, que a serve. Em contrapartida, apoia a classe alta, que apenas a usa como mão-de-obra e mercado consumidor. A classe média fica feliz de ser usada porque almeja ascender, sem se dar conta que isso não vai acontecer.
Uma classe trabalhadora empobrecida, num país com alta desigualdade social, puxa a economia para baixo e impede que haja uma classe média forte. Nesse sentido, o caminho mais acertado para a classe média avançar (ou sobreviver) é se unir à classe mais pobre e lutar por melhores condições para o país. Isso significa defender a justiça social, os direitos dos cidadãos e combater o preconceito, o individualismo e a intolerância que imperam nesse país.
Quem dera a classe media entendesse onde está e quem são seus aliados!