Amamentação: desencontros & possibilidades
Camila Valente é enfermeira especialista em amamentação
No mês das mães, nada mais oportuno do que falar de amamentação, um dos principais ritos de passagem da maternidade. Por menos familiarizada que se esteja com o tema, está lá no inconsciente coletivo que esse é um evento natural, gratuito e possível, basta querer. Porém, quem amamenta ou já amamentou sabe que nem sempre é assim. Para muita gente, um bom preparo e ajuda qualificada são fundamentais para tornar essa experiência viável e prazerosa.
Clinicamente, é crescente o número e a variedade de queixas. Vemos muitas pacientes com dores intensas, mamas machucadas, inflamadas, baixa produção de leite, bebês ictéricos, com dificuldade em ganhar peso, desconfortáveis. Problemas assim, quando identificados precocemente, podem ser resolvidos sob a orientação de profissionais treinadas, mas frequentemente acabam virando uma bola de neve.
Diante de tantas dificuldades, amamentar pode acabar ficando com cara de batalha, e a ideia inicial de ser natural fica distante para muitas mães. Algumas acreditam que a dor faz parte do amamentar, outras recorrem a conselhos de pessoas próximas; e quem busca ajuda com profissionais do parto, enfermeiras ou pediatras, nem sempre recebe a assistência adequada, porque a maioria deles não tem o treinamento mínimo ou certificação em amamentação, mesmo que trabalhe diretamente com mulheres e bebês. Portanto, essa é uma especialidade necessária – demande do profissional que te atende a certificação ou encaminhamento adequados.
Cuidar da amamentação vai muito além da competência técnico-científica. Os desafios na amamentação demandam sutilezas que não se enquadram no formato tradicional de atendimento em saúde. Apesar da necessidade de diagnóstico e tratamento, o apoio é fundamental – principalmente para nós expatriadas.
Como enfermeira, mudei de especialidade por ter experienciado dificuldades em amamentar meu primeiro filho. Desde então, tive o privilégio de ser treinada por profissionais internacionais renomados. Hoje utilizo a abordagem Baby-led & women-centered, aliada sempre ao máximo respeito pelas escolhas e metas de cada mãe. Junto com evidências científicas atuais, vejo que tem sido uma combinação muito eficiente!
O começo da amamentação pode ser o “freio de arrumação” da nova vida. E tudo bem. Contar com ajuda especializada previne dificuldades, resolve queixas, ajuda a economizar e aquece o coração. Amamentar dá trabalho, mas é uma aventura transformadora que não tem preço; como a vida, né? Desejo a todas as mães que, nesse universo tão vasto e incrível que é maternar, seu caminho seja cheio de bons encontros.
Um feliz-dia-das-mães-todos-os-dias!
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