Feliz aniversário para Marx
Alexandre Dias Ramos é editor
Em 5 de maio de 1818 nascia Karl Marx. Bom, se o texto é sobre Marx, eu deveria então começar falando dele, mas gostaria de começar falando de um outro sujeito que também tem muito má fama: René Descartes.
Desde a escola, nunca me conformei como um matemático e filósofo poderia ser tão mau, obtuso (para usar um termo da área dele) e tão insensível em relação ao mundo, como Descartes foi. Os professores sempre se referiam a ele como tal, e tudo estava lá, registrado nos textos dos livros da escola também. O sujeito sempre foi usado como exemplo de uma racionalidade quase doentia. Anos depois, na universidade, não foi muito diferente, lá estava o verme maldito como modelo máximo da intolerância com o mundo. E eu tinha certa raiva e pavor dele.
Um belo dia, descobri que havia o Discurso Sobre o Método na biblioteca do meu avô, respirei fundo e resolvi ler Descartes na fonte, por ele mesmo. Surpreendentemente, logo de início, vi que se tratava de uma pessoa bastante ponderada e, acima de tudo, contrário ao conservadorismo e às regras incoerentes do universo acadêmico que ele vivia. Inconformado, ele largou tudo, pegou um barco e foi viajar por dois anos, a esmo, para conhecer e experimentar o mundo.
Haveria muito o que falar aqui sobre o filósofo, e as diferenças entre o que ele era, o que idealizou, e o que os estudiosos posteriormente “colaram” à teoria dele. O mesmo acontece com Karl Marx, cujas reflexões foram usadas para erguer “impérios” que trouxeram tantos problemas.
É preciso lembrar que Marx morreu em 1883, ou seja, 34 anos antes da Revolução Russa, e portanto não teve culpa das atrocidades de Lênin e Stalin, das sandices imperdoáveis de Mao Tse-tung, na China, ou de tantos outros regimes comunistas. Marx nunca desejou cercear a liberdade dos cidadãos, como foi feito na Rússia e em Cuba, ou anular toda a história cultural de uma nação, como Mao o fez. Também nunca defendeu o despotismo de Estado. Em outras palavras, o mau exercido pelos governos comunistas não pode ser imputado a Marx. Assim como Jesus não era cristão, porque o Cristianismo nasceu depois de sua morte, Marx não foi um comunista praticante do Comunismo moderno.
Aqui uma ressalva: ao falar das barbaridades cometidas pelos governos comunistas não estou eximindo as barbaridades cometidas pelos governos capitalistas, e nem deixando de valorizar os ganhos que ambos os sistemas eventualmente trouxeram para a humanidade. O texto não é sobre isso.

Karl Marx, por Roger Viollet. Fonte: Getty Images.
Voltando. As reflexões de Marx e seu colega Engels tinham o objetivo de esclarecer um problema de funcionamento que perceberam no sistema capitalista, que, naquela época, estava no formato inicial de como o conhecemos hoje. Falando de uma forma simplificada, ambos descobriram que o sistema continha um erro em sua equação, que geraria um aumento crescente de desequilíbrio econômico e social e que isso, no futuro, teria como consequência a destruição do próprio sistema. A preocupação deles foi, portanto, a de formular um modo de reestabelecer esse equilíbrio.
Assim como em Descartes, a matemática e a filosofia estavam a favor de Marx, mas o mundo… Bem, o mundo tem um funcionamento completamente diferente.
Quero apenas deixar aqui minha homenagem a esse grande cientista político, que deve sempre ser lembrado e estudado, para que seja melhor compreendido.
Aos interessados em conhecer mais sobre Marx, há um pequeno documentário, muito bom, na Netflix: o primeiro episódio da série “Genius of the Modern World”. Há também outros grandes filmes sobre ele e, claro, seus livros, muitos deles já traduzidos para o português.
Aceitariam um artigo contrapondo-se à tese presente nessa coluna?
Seria um prazer colaborar com a discussão.
Abraço.
Olá, Markian. Sem dúvida, seria ótimo ter um contraponto da matéria. Voce poderá nos enviar para o info@jornaldetoronto.ca
Seu texto terá de passar por nosso conselho editorial, especialmente por conta do tema. O interesse de nosso jornal é não alimentar as discussões de FB da maneira como têm acontecido, de forma tão maniqueísta, mas justamente trazer contrapontos transversais às discussões. O intuito principal do nosso texto foi incentivar o público a ler Marx na fonte, e não de fazer uma defesa ao comunismo.
Obrigado por seu interesse. Um abraço.