O espaço pessoal entre o brasileiro e o canadense
Elizabeth Schulz é psicóloga em Montreal há 29 anos
O antropólogo americano Edward Twitchell Hall foi reconhecido por desenvolver o conceito de “proxêmica”, em outras palavras, o espaço pessoal em seu meio social. Hall demonstrou que pessoas de diferentes gêneros, idades e culturas mantêm diferentes padrões de espaço pessoal.
Original do Rio de Janeiro, cheguei a Montreal jovem, mãe de 2 crianças (na época, com 2 e 6 anos), no verão de 1988. No primeiro domingo aqui, levei meus filhos para brincar numa pracinha do bairro. Não havia quase ninguém, mas avistei duas mulheres com crianças, conversando em um dos muitos bancos vazios da praça. Sorrindo, me aproximei e me sentei no mesmo banco. Foi então que, esperando “a minha deixa” para me apresentar, tive o meu primeiro choque com a cultura local! Nem cinco minutos se passaram, as duas se levantaram, recolheram as crianças e mudaram-se para o banco seguinte. Nunca vou esquecer da grande decepção e tristeza que senti naquele momento. Senti até o coração encolher! Minha primeira tentativa de aproximação foi friamente rejeitada!
Pelo gráfico, podemos ver a diferença das distâncias pessoais entre o Canadá e o Brasil! Naquele momento, eu certamente devo ter passado do limite mínimo do espaço individual delas. O mínimo suficiente para que elas se sentissem invadidas e decidissem ir para o banco seguinte.
Bem sociável e acostumada a uma vida sem formalidades, até então eu nunca havia me preocupado em como fazer amizades. Em nosso país, elas simplesmente acontecem! Na pracinha do bairro, na praia, nas ruas ou em qualquer outro lugar, as pessoas simplesmente começam a conversar e rapidamente se tornam grandes “amigos de infância”. Acredito sinceramente que fazer amigos é um dos muitos grandes talentos que os brasileiros trazem para essas terrinhas geladas. Somos mais informais, rimos e falamos em voz alta! Abraçamos e nos beijamos em público sem preocupações – o que aliás em alguns países é considerado crime!
Edward Hall e outros pesquisadores demonstraram que em países mais quentes as pessoas preferiam manter distâncias mais próximas entre si, se comparadas com pessoas de países mais frios. O clima do Brasil facilita bem isso, onde temos o privilégio de ficar mais tempo fora de casa e em contato maior com as pessoas. Aqui, as pessoas crescem dentro das casas para se protegerem do longo e rigoroso inverno e, consequentemente, ficam mais isoladas do contato social do que nós brasileiros. Isso deve certamente aumentar a formalidade e a necessidade de espaço.
Quebec em 2010 contava com uma população de 7.867.000 habitantes, e densidade demográfica de 4,7 por km2. Em contrapartida, dados do IBGE nos indicam que a população do estado do Rio de Janeiro em 2010 era de 15.989.929 habitantes, com densidade demográfica de 365,23 por km2. Acho que diminuir o nosso espaço interpessoal foi a nossa única opção!
Tais diferenças não significam, porém, que somos mais afetivos que o canadense, mas sim que a maneira com que expressamos afeto e outros sentimentos no meio social pode ser diferente. Se compreendermos as causas de certas diferenças culturais, será mais fácil nos adaptarmos e nos aproximarmos dos canadenses e dos muitos outros imigrantes que, como nós, escolheram esse país como sua segunda moradia.
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