Talentos desperdiçados

 

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto 

 

Qual o maior investimento que fazemos na vida, no que aplicamos mais nosso esforço? Quem olha pelo lado monetário, dirá que é a casa própria. Contudo, para os que conseguem esse feito – uma expressiva percentagem da população não consegue fugir do aluguel –, é mais uma questão de persistência, pois sabem que pouco a pouco estão avançando no caminho. Na verdade, o que mais consome nossas energias na vida, e a todos no mundo, é a educação. Pequeninos, sonolentos, colocamos o uniforme, a mochila, e vamos em busca de uma formação. Então começam os testes, os trabalhos, as provas finais, Enem, vestibulares, a ânsia para que chegue o dia da formatura.

Isto sim é esforço; horas a fio debruçados sobre livros, sem um relógio de ponto para dizer que nosso encargo do dia acabou. Noites mal dormidas, tensão, choro. O diploma é uma conquista a ser muito comemorada. Afinal, é o esforço do país, dos pais, dos professores, de auxiliares de ensino, dos próprios estudantes e de tantos outros envolvidos na educação, como até os motoristas dos ônibus escolares. Por isso, é um crime chegar ao final deste trajeto e dizer ao formando que seu conhecimento é desnecessário à sociedade, e que se vire como puder para sobreviver.

Porém, muito mais grave é iludir que, do outro lado do mundo, está o espaço buscado por estes profissionais. Claro que para ter esse direito, terão que passar por um desgastante processo, gastar muito e mostrar que o histórico escolar é brilhante. Basta descer do avião para começar o “não é bem assim”, “seu diploma aqui não vale”, “tem que estudar (e pagar a peso de ouro) tudo de novo”. Pior, você deve reinventar sua carreira profissional, esquecer sua vocação e sua área, e fazer muito trabalho voluntário, com esperanças remotas de contratação. Profissionais que deixaram sua família para trás, o quadro que tanto gostavam na parede, os livros, os vinis e até os talheres e o travesseiro, recomeçando a vida do zero, agora como mão de obra de reserva barata. Caem no canto da sereia.

Sobre José Francisco Schuster (70 artigos)
Com quase 40 anos de experiência como jornalista, Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Ao longo dos últimos 10 anos, tem produzido programas de rádio para a comunidade brasileira no Canadá, como o "Fala, Brasil" e o "Noites da CHIN - Brasil". Schuster agora comanda o programa "Fala Toronto", nos estúdios do Jornal de Toronto.

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