Talentos desperdiçados
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Qual o maior investimento que fazemos na vida, no que aplicamos mais nosso esforço? Quem olha pelo lado monetário, dirá que é a casa própria. Contudo, para os que conseguem esse feito – uma expressiva percentagem da população não consegue fugir do aluguel –, é mais uma questão de persistência, pois sabem que pouco a pouco estão avançando no caminho. Na verdade, o que mais consome nossas energias na vida, e a todos no mundo, é a educação. Pequeninos, sonolentos, colocamos o uniforme, a mochila, e vamos em busca de uma formação. Então começam os testes, os trabalhos, as provas finais, Enem, vestibulares, a ânsia para que chegue o dia da formatura.
Isto sim é esforço; horas a fio debruçados sobre livros, sem um relógio de ponto para dizer que nosso encargo do dia acabou. Noites mal dormidas, tensão, choro. O diploma é uma conquista a ser muito comemorada. Afinal, é o esforço do país, dos pais, dos professores, de auxiliares de ensino, dos próprios estudantes e de tantos outros envolvidos na educação, como até os motoristas dos ônibus escolares. Por isso, é um crime chegar ao final deste trajeto e dizer ao formando que seu conhecimento é desnecessário à sociedade, e que se vire como puder para sobreviver.
Porém, muito mais grave é iludir que, do outro lado do mundo, está o espaço buscado por estes profissionais. Claro que para ter esse direito, terão que passar por um desgastante processo, gastar muito e mostrar que o histórico escolar é brilhante. Basta descer do avião para começar o “não é bem assim”, “seu diploma aqui não vale”, “tem que estudar (e pagar a peso de ouro) tudo de novo”. Pior, você deve reinventar sua carreira profissional, esquecer sua vocação e sua área, e fazer muito trabalho voluntário, com esperanças remotas de contratação. Profissionais que deixaram sua família para trás, o quadro que tanto gostavam na parede, os livros, os vinis e até os talheres e o travesseiro, recomeçando a vida do zero, agora como mão de obra de reserva barata. Caem no canto da sereia.
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