Aqui me tens de regresso
Cristiano de Oliveira é colunista do Jornal de Toronto
Saudações, gente boa, gente amiga e gente honesta.
Foram 12 anos certinhos escrevendo no muito querido Brasil News, de janeiro de 2004 a fevereiro de 2016, 272 matérias. Depois foi um ano de férias, só escrevendo em inglês – não, não vou posar de bonitão brasileiro recebido de braços abertos pelo gringo amigo pela sua arte e talento, esse negócio me irrita e de gente assim a praça tá cheia. A verdade é que passei um ano só escrevendo convite de Facebook pra nossa Roda de Samba em inglês. Foi interessante, porque eu não consigo só escrever “Atenção: vai ter samba sábado. Venha”, então mesmo em inglês eu me forcei a dar um molho no texto. Mas foi só, portanto, não tô esnobando, porque não tem o que esnobar. Continuo sendo um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, como Mestre Belchior, que fez o desacato de nos deixar sem sua espetacular poesia, sua voz única e seu bigodão (aquele bigode é que sempre me intrigou. Sempre me dava a impressão de que ele tinha comido um corvo e o rabo havia ficado pra fora).
E depois de tudo isso, estou de volta, tendo a honra de participar do ousado projeto do Jornal de Toronto, ao lado de grandes amigos. É um recomeço difícil, porque honestamente eu já nem sei se ainda tenho algo pra dizer. Depois desse tempo todo, acho que eu já falei o que tinha que falar. Quando comecei a escrever em Toronto, ainda tinha o olhar curioso do recém-chegado, jovem, solteiro e caçando encrenca – os que me acompanham desde as antigas vão lembrar que eu não passava uma matéria sequer sem sugerir que o leitor olhasse fundo dentro do seu coração e verificasse com carinho se por acaso não teria uma prima bonita e de intenção casadoira pra me apresentar (era uma piada recorrente, mas com um tremendo fundo de verdade, pois a seca estava transformando meu cérebro em cortiça). O tempo passou, eu casei, separei, criei gato, viajei com a bandeira do Galo, fiz trabalho voluntário, toquei samba, desentortei banana, amei o próximo, mandei o próximo pro inferno mais próximo… Só duas coisas não mudaram: continuo atleticano (porém sempre comedido e sem encher o saco alheio); e nunca deixei de passar o Natal com vó, porque vó é mais.
Mas vamos de coluna nova então. Aos que me conhecem, obrigado sempre, lembrei-me de vocês pra voltar a escrever. Aos que não me conhecem, muito prazer e bem-vindos. Aqui não temos tema fixo nem pose de jornalista: fui revisor e detesto erro de português, mas ao mesmo tempo a beleza da língua brasileira mora na linha tênue entre o esculachado e o erudito. Meu desafio é combinar as duas coisas. Juntar só coisa importante no papel: livros, música, cinema, cultura, cachaça, boteco, futebol e a Gretchen. E continuo me despedindo com os versos de Silvino Neto, famosos na voz de Francisco Alves: “Adeus, cinco letras que choram.”
Aee Cristiano!! Estava sentindo falta do seu escrito! Abraco