Eventos climáticos extremos são alerta
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Neste último mês, o mundo foi dominado por notícias meteorológicas preocupantes: eventos climáticos extremos em diversas partes do mundo acendem o sinal de alerta de que já fomos longe demais nos danos ambientais, enquanto segue o negacionismo ou providências muito lentas e diminutas frente à dimensão do problema.
Aqui no Canadá, a costa oeste enfrenta até então inimagináveis temperaturas ao redor de 50 graus Celsius, surpreendentemente superiores ao máximo já registrado no Brasil (44,8 graus em Nova Maringá, Mato Grosso, em 2020). Os incêndios florestais se alastram, obrigando a evacuações, e consumiram a cidade de Lytton, na Colúmbia Britânica. Além disso, o calor extremo cozinhou mexilhões e mariscos vivos em praias da província. Situação semelhante vivem os estados da costa oeste dos Estados Unidos. Este mês de junho foi o mais quente já registrado na América do Norte, com a atividade humana tendo causado um aumento da temperatura global em 1,1 grau centígrado, o que resultou em tempestades mais destrutivas, ondas de calor mais intensas, secas e aumentos de incêndios florestais.
O Brasil vive uma intensa seca que ameaça inclusive o abastecimento de energia elétrica, algo surpreendente para um país que se orgulhava de seu potencial hídrico, com rios entre os maiores do mundo, e que por isso havia apostado muito em usinas hidrelétricas. Por outro lado, o frio extremo, com temperaturas negativas em alguns locais, atingiu não só a Região Sul, mas invadiu o Sudeste e o Centro-Oeste. Pela primeira vez desde 2000, Santa Catarina registrou três dias seguidos de neve, com Bom Jardim da Serra tendo chegado a marcar -7,5 graus. Sem preparo para isto, é uma situação angustiante, especialmente para a população pobre, com ao menos 12 mortos, segundo o Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo.
A Europa, por sua vez, vivencia enchentes históricas na Alemanha, Bélgica e Holanda que não eram vistas há décadas. Só na Alemanha, foram ao menos 165 mortos, desaparecidos e um rastro de destruição. A China também sofre com as cheias, que chegaram a inundar os vagões de um metrô com passageiros em Zhengzou, causando 12 mortes.
Os alertas sobre o aquecimento global são dados há muitos anos por cientistas sérios e até pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, que lançou em 2006 o documentário Uma Verdade Inconveniente, que lhe rendeu o Oscar de melhor documentário de 2007, assim como o Nobel da Paz do mesmo ano. O Acordo de Paris da ONU sobre as mudanças climáticas, contudo, só saiu em 2015, e avança a passos lentos. Em 2017, o negacionista presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que o país iria deixar o acordo. Ao menos, no primeiro dia de mandato de Joe Biden, em janeiro deste ano, os EUA voltaram a fazer parte, confirmando um compromisso de campanha.
Por sua vez, Jair Bolsonaro, desde sua campanha presidencial, manifestou a intenção de retirar o Brasil do acordo. A nomeação de Ernesto Araújo, que nega o aquecimento global e o considera uma “conspiração marxista”, para o cargo de Ministro das Relações Exteriores mostrou uma dramática mudança de Bolsonaro em relação às políticas climáticas e ambientais do país. Contudo, em vista da pressão política, Bolsonaro desistiu da ideia.
As consequências do que foi feito não estão no futuro, mas já ocorrem aqui e agora, e não há como interrompê-las. É essencial, porém, uma mudança de hábitos, para que paremos de destruir nossos recursos naturais e criar mais desequilíbrio. Uma forma para isso, segundo os especialistas, é buscar a emissão de carbono zero, o que envolve não só medidas governamentais, mas também individuais. É urgente que cada um crie consciência.
Ótimo texto, Schuster.
É urgente que cada um crie consciência. É urgente que priorizemos a saúde coletiva e o meio ambiente. É urgente que repensemos o consumo de carne e outros produtos animais. É urgente que reduzamos o consumo de plástico em todas as formas!