Quem são os evangélicos?
Rodrigo Toniol é colunista do Jornal de Toronto
Em 2002 o Brasil comemorava a vitória do pentacampeonato mundial quando assistiu pela televisão uma cena emblemática. Kaká, o mais jovem daquele time e ainda uma promessa, era carregado pelos companheiros, erguendo a taça e vestindo uma camiseta branca com os dizeres “I belong to Jesus”. A ocasião levaria a FIFA a regulamentar manifestações religiosas em seus campeonatos. Mais importante ainda, a cena destoava do perfil dos evangélicos brasileiros. A imagem de Kaká contrastava com aquela mais difundida do “crente” de cabelos longos e saia comprida. O fato colocava diante dos olhos do mundo que o universo evangélico brasileiro não apenas crescia como também se diversificava. Mas afinal, quem são os evangélicos no Brasil?

Kaká, comemorando o pentacampeonato mundial em 2002. Foto: Agência Getty Images.
Apesar de algumas variações, há certo consenso sobre a existência de quatro ondas históricas que marcam a trajetória desse grupo no Brasil. A presença inicial dos evangélicos ocorreu juntamente com a chegada dos imigrantes europeus, sobretudo alemães, no sul e sudeste do país. Ainda que pontualmente seja possível identificar um caso ou outro de luteranos e anglicanos desembarcando no Brasil no início do século XVIII, foi somente a partir de 1824 que esses grupos se estabeleceram massivamente no país. Tratava-se, no entanto, de uma religião de comunidade, restrita às colônias europeias.
Foi no início do século XX que esse quadro foi alterado. Em 1910, a Congregação Cristã foi fundada em São Paulo pelo italiano Luigi Francescon, migrado dos Estados Unidos; e em 1911 dois suecos fundaram, em Belém do Pará, a Assembleia de Deus – a maior igreja evangélica do país. Juntas, essas duas igrejas foram dominantes até a década de 1940. Tinham como característica um forte anticatolicismo e o estímulo a uma vida consagrada, longe de tentações mundanas. No plano teológico, enfatizavam a relação com o Espírito Santo e o dom de falar em línguas.
A terceira onda começou no início dos anos de 1950 e rapidamente se espalhou pelo país, fragmentando-se em muitas igrejas. Entre elas, três se consolidaram com destaque, a Igreja do Evangelho Quadrangular, criada nos Estados Unidos e importada para o Brasil em 1951; a Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo, fundada em 1955, pela primeira vez por obra de um brasileiro; e a Igreja Pentecostal Deus é Amor, criada em 1962, pelo também brasileiro David Miranda. Todas elas têm como traço comum a ênfase teológica na libertação dos espíritos e a cura de enfermidades; além de terem sido pioneiras no uso intensivo do rádio como veículo de pregação.
Por fim, a quarta onda, que se consolidou na década de 1970 e cujo principal expoente é a Igreja Universal do Reino de Deus. Sua forma de atuação foi replicada por outras igrejas posteriores a ela: ênfase na prosperidade da vida mundana, testemunhos de conversão, libertação do mal e extenso uso da televisão como meio de evangelização.
Se, por um lado, o Brasil é cada vez mais evangélico, por outro, o universo evangélico é cada vez mais brasileiro e diverso.
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