Onda conservadora impede avanços para a maioria
José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Vários países da América e da Europa embarcaram em uma onda conservadora na última década que se espalhou inclusive entre províncias no Canadá, o que vem a causar um retrocesso em políticas sociais que vinham sendo desenvolvidas para diminuir a desigualdade social. Por razões diversas, os eleitores passaram a apostar em propostas que já provocaram severos danos no passado. Sem aprender a lição, só mais tarde se dão conta de que repetem uma história conhecida e de final amargo.
Nos Estados Unidos, Trump foi eleito em 2017, ao derrotar a candidata democrata Hillary Clinton no número de delegados no colégio eleitoral, mesmo perdendo por mais de 2,8 milhões de votos, a maior derrota nas urnas de um presidente eleito na história do país. Entre outros fatores, Trump venceu ao apresentar-se como outsider, o forasteiro. Nem prometer um muro na fronteira com o México em um país de imigrantes o deteve. Hoje os americanos convivem com o aumento da violência, a saída do Acordo de Paris sobre o clima e posições polêmicas em política internacional.
Na Europa, a crise econômica e a de refugiados levou à chamada “Pasokificação”, o declínio de partidos de centro-esquerda, em alusão à derrota do Pasok, o partido socialista grego em 2012. Desde então, conservadores ganharam espaço também na República Tcheca, França, Hungria, Holanda, Itália e Polônia.
Já na América Latina, a vitória de partidos progressistas em vários países e seu consequente declínio posterior, quase de forma simultânea, dá origem a teorias de que houve apoio de forças conservadoras estrangeiras para que o continente voltasse à situação anterior, com o retorno de milhões à situação de miséria. Mauricio Macri, eleito presidente da Argentina em 2015, entretanto, perdeu nas recentes eleições primárias justamente pelo aumento da miséria, disparada da inflação e por não conseguir atrair investimentos externos.
O caso do Brasil é amplamente conhecido, com manobras políticas para destituir a presidenta Dilma Rousseff e impedir a candidatura do líder nas pesquisas, Lula. A popularidade do sucessor Michel Temer, todavia, foi quase a zero e a do governo Bolsonaro começa a cair, já que o crescimento econômico e os empregos que surgiriam “automaticamente” com a saída de Dilma não se concretizaram.
No Canadá, o Partido Conservador elegeu governadores em Ontário, Quebec, New Brunswick, Alberta, Prince Edward Island e acaba de reeleger-se em Manitoba. Isto significa que 82% dos canadenses são governados provincialmente por conservadores, embora o primeiro-ministro do país seja do Partido Liberal. Em Ontário, porém, também já começa a haver um movimento reverso, já que a promessa foi de que “ninguém vai perder seu trabalho” e milhares perderam o emprego, além de não ter sido implementado o salário mínimo de $15 dólares/hora e terem ocorrido cortes na saúde, educação, ajuda jurídica, e apoio para os autistas.
As eleições federais deste 21 de outubro, portanto, são um sinalizador importante do rumo do Canadá, como um todo, em um mundo que não favorece a maioria. Isto porque políticos voltados às elites têm o mantra de cortar impostos, já que assim beneficiam principalmente seus amigos endinheirados. Porém, como diz o sábio ex-presidente do Uruguai, José Mujica, “os que comem bem, dormem bem e têm boas casas pensam que se gasta demais em políticas sociais”.
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