Newton Moraes e o desafio dos nossos tempos
Gloria Blizzard é escritora
O diretor artístico e coreógrafo Newton Moraes é um grande contador de histórias. Em seu mais recente trabalho, Wired Love, ele tece movimento, voz, iluminação e sonoridade em um conto que explora nossa relação com a tecnologia – especificamente nossos telefones celulares, como extensões dos nossos próprios corpos.
Nessa narrativa sensível sobre a nossa luta moderna, os dançarinos são inicialmente incapazes de fazer qualquer conexão física ou emocional entre si, mas apenas filmando o sofrimento do outro ou permanecendo envolvidos com suas telas individuais. Eles alternam entre suas solitudes separadas e momentos de contato humano.
O conjunto de cinco dançarinos, altamente habilidosos e de diversas origens, movimenta-se de forma fluida entre o balé, a dança contemporânea, o hip hop, o Butoh japonês, a dança indígena Xavante e a linguagem de sinais. Um pas de deux não convencional faz referência à capoeira. Os dançarinos também fazem referência aos movimentos característicos dos orixás, os deuses e deusas da religião afro-brasileira do candomblé. Essa multiplicidade de vocabulários de movimentos culturais resulta em um espetáculo de uma hora que é épico em seu escopo.
Também é cheio de tiradas e humor. “Eu estou fazendo um show”, diz um dos dançarinos para sua avó, pelo celular, no meio da apresentação. Os outros dançarinos se juntam para acenar para ela no telefone. A plateia ri e ainda fica pensando se este seria um momento apropriado para a conexão.

Foto: Cylla von Tiedemann.
O espetáculo inclui um poderoso som ambiente, que se alterna entre vozes líricas crescentes e ritmos afro-brasileiros. Às vezes, o som barulhento de uma espécie de drone faz com que o público experimente, através de vibrações sonoras, uma sensação de ameaça pela tecnologia.
Apesar dos comentários fortes do programa, a visão de Moraes também traz oportunidades para nos reunirmos e nos conectarmos usando a tecnologia para recriar o sentido de comunhão do passado.
Wired Love é um tratado elegante e convincente de nossos tempos, explorado pela graça e poder da dança.
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