Remessas do Canadá são alívio para milhares de famílias no Brasil

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
As grandes dificuldades e os riscos que envolvem emigrar fazem com que muitas vezes seja uma aventura solitária, que tanto pode ser de um jovem solteiro como de um pai de família que vai adiante, preparando o terreno para que a chegada a uma nova terra não seja ainda mais dura. Enquanto a família não se reúne – se é que algum dia conseguirá fazer isso –, há uma rotina mensal, tanto entre migrantes documentados como indocumentados, de enviar dinheiro para manter esposa, filhos, pais e outros parentes, através de casas especializadas em remessas. Segundo a ONU, são mais de 200 milhões de trabalhadores imigrantes ajudando cerca de 800 milhões de pessoas.
Em 2017, foram enviados US$450 bilhões, sendo US$2,74 bilhões para o Brasil. Nada que afete a economia dos países que acolhem os imigrantes, já que é remetido apenas 15%, em média, da renda do trabalhador (embora alguns mandem mais da metade do que ganham), com as remessas representando somente 1% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países de origem. Para quem está na outra ponta, porém, representa muito dinheiro: mesmo pequenas somas de US$200 a US$300 chegam a significar 60% da renda da família que recebe, o que tem um grande impacto, não só nas suas vidas como até na economia de suas comunidades – afinal, as remessas representam mais do que o triplo do que é enviado como assistência oficial para países em desenvolvimento.
Por isso, quem manda o faz sempre com um sorriso, não com a visão negativa que se tem das contas a pagar. É uma satisfação para o emigrante ao menos oferecer apoio material à sua família, que está privada de sua presença física. Nada melhor do que ver a foto na internet do seu filho com o material escolar em dia, com uma bola nova, e saber que não falta pão na mesa dele. É possível que a satisfação de enviar seja o motivo pelo qual 78% dos brasileiros no exterior o fazem com periodicidade. Além de ajudar a família, outros objetivos são investimentos como poupança (ou para empreender ao regressar), pagamento de dívidas (que podem ser referentes à própria emigração), aquisição ou reforma de imóveis, e até ajuda a entidades.
O que seria de Governador Valadares e Ipatinga, cidades com notória emigração, se não fosse o dinheiro que recebem do exterior? De onde vêm sua prosperidade bem acima da média brasileira? Em países menores, as remessas de emigrantes chegam a ter peso no próprio PIB: no Tajiquistão as remessas representam quase metade do PIB, e até mesmo para Portugal é um volume que faz diferença na economia. A quantidade de dinheiro que os imigrantes enviaram para suas famílias em países em desenvolvimento cresceu 51% durante os últimos dez anos, permitindo que milhões de pessoas saíssem da pobreza, indicou relatório apresentado pela ONU.
É preciso eliminar, portanto, o preconceito contra as remessas feitas pelos imigrantes para seus países de origem. É um dinheiro suado, carregado da emoção que a distância provoca, mas que traz a recompensa da missão cumprida.
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