Notícias da Baixada: o sistemático no Brasil

Ano XIV, Parte 1.

Cristiano de Oliveira é colunista do Jornal de Toronto

Saudações, ursos polares.

A cada visita anual ao Brasil, escrevo essa coluna intitulada “Notícias da Baixada”. Quando eu trabalhava com legendagem, era uma beleza, pois podia trabalhar de casa, daí ia pro Brasil no Natal e voltava só depois do Carnaval. A viagem rendia umas três colunas recheadas de informações importantes sobre o Brasil, inclusive o preço de bens de consumo de primeira necessidade, como requeijão, X-Tudo, Amandita, drops Chu-Cola, mandioca frita e cerveja no bar e no supermercado, para que o Fiscal do Sarney que vive dentro de nós pudesse crescer forte e sadio.

Mas o tempo passou e eu fui trabalhar em empresa sistemática. Férias controladas, não pode trabalhar de casa, nem de pijama, camisa do Galo, chinelo Rider etc. Assim, hoje meu tempo no Brasil é curto demais pra entrar em roubadas que geram histórias boas. Mas eu tento; portanto, vamos lá, é mixaria, mas é de coração.

Ao menos em Belo Horizonte, a palavra do ano é a insuportável “resenha”. Quando a gente se juntava pra falar bobagem lá no começo dos 90, chamávamos aquilo de “resenha esportiva”, pois no rádio esportivo usavam esse termo até então obscuro pra nós. Hoje em dia, um evento com 700 malucos fritando numa boate já é chamado de “resenha”! Ninguém nem escuta o que o outro tá falando ali dentro; como pode ser resenha? Com 2,5 semanas de Brasil, eu acabei incluído em três grupos de WhatsApp que tinham “resenha” no nome. Mas tenho que achar bom: do jeito que o brasileiro anda apaixonado por gringuices, era perigoso ser um nome em inglês. Imagina ser convidado no Brasil para um Gué Tchuguéda? Igual St. Patrick’s Day em BH: o único irlandês que a cidade já viu é um disco do U2, e ainda assim deve ter sido prensado pela Gravadora Copacabana Chantecler.

O universo musical do brasileiro no momento gira em torno de duas figuras que não deveriam gerar girança nenhuma: Anitta e Pablo Vittar. Todo mundo reclama de Pablo Vittar. Ele canta bem? Não. Mas de cantor ruim o Brasil tá cheio e ninguém fala nada! Só no sertanejo você tem voz do tipo “Alvin and the Chifremunks”, “Belchior com cólica”… Mas só sobra pro Pablo Vittar. Já a Anitta também escuta desaforo, mas no fundo todo mundo adora. Em vista do panorama mundial, acho que ela merece o sucesso que faz, pois não perde em nada pras rebolatrizes americanas. O problema foi quando ouvi seu novo sucesso, Vai Malandra. Aí minha cabeça aberta e coração jovem foram tragados pelas trevas e eu virei um véio chato outra vez. Ah, me ajuda: não é por causa da tosquice do clipe, ou da sacanagem… O que mata o cristão é uma música que rima “bumbum” com “tum turum”. Ôu, pede pra morrer! Cê não é capaz de rimar com um pobre dum bumbum? Larga ele então, cê não merece bumbum nenhum! Aí ó: só enquanto eu esculachava o compositor, já rimei com o bumbum duas vezes, irmão!

E agora eu tô nervoso! Na próxima edição tem mais. A parte 2 das “Notícias da Baixada” vem aí, e quem sentar no chão o Roomba leva.

Adeus, cinco letras que choram.

Sobre Cristiano de Oliveira (30 artigos)
Cristiano é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

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