Brasil retrocede ao não apoiar pesquisa

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto
Dois recentes fatos denotaram a atenção do Canadá à pesquisa brasileira. Um foi o esforço da prefeitura de Mississauga de trazer para a cidade o centro de pesquisa e desenvolvimento da gigante farmacêutica brasileira Biolab, atraída pela agilidade na aprovação de pesquisas e novos produtos e pela forte cultura de inovação no Canadá, em um investimento de $56 milhões de dólares canadenses. O outro foi o epidemiologista Cesar Victora, professor emérito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ter recebido o John Dirks Canada Gairdner Global Health Award pelas suas pesquisas sobre os reflexos da amamentação exclusiva na inteligência, produtividade, renda e escolaridade.
Isto ocorre no momento em que a crise econômica e cortes sucessivos de orçamento estão entre os fatores responsáveis pela decadência da ciência brasileira. Entre os estudos afetados estão as pesquisas de doenças neurológicas, como Alzheimer e mal de Parkinson, o programa espacial e a pesquisa agrícola. Para o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, a pesquisa no Brasil está sob forte ameaça, decorrente do corte de verbas determinado pelo governo Temer, ao sofrer um contingenciamento de 44%, além da defasagem já existente.
As dificuldades não são novidade: o professor Victora lembra que começou seu trabalho na década de 80 com muito pouco dinheiro brasileiro. Aliás, a primeira verba que recebeu foi do Canadá, que apoia a pesquisa em países de renda média ou baixa. Na década passada, porém, excepcionalmente, o Brasil concedeu muito financiamento para a pesquisa, tendo formado muitos pesquisadores e PhDs.
“Já hoje está uma crise enorme, há poucas bolsas de estudos”, relata o professor, que testemunhou em pessoa a consequência. “Vi na Universidade de Toronto uma série de jovens pesquisadores que o Brasil mandou para cá para passarem seis meses; o Brasil pagou a bolsa, pagou a passagem, e eles não voltam porque as condições lá não estão muito boas. Quando o cara é bom, a universidade aqui o atrai. As universidades do Canadá estão cheias de brasileiros. É uma fuga de cérebros”, lamenta Victora, cujo próprio filho hoje é pesquisador na Universidade Rockfeller, em Nova Iorque, onde conta com laboratórios e equipamentos caros que não conseguiria no Brasil.
Como sair disso? “Na década de 50, terminada a guerra, a Coreia do Sul estava arrasada, muito pior do que o Brasil hoje. Investiu em pesquisa, ciência e tecnologia e hoje possui empresas do porte de Samsung, LG, Hyundai e Kia.”, aconselha o professor, lastimando que até hoje o Brasil não tem nenhum Prêmio Nobel.
Sou seguidora do jornalista José Francisco Schuster, por longos anos. Tenho muito orgulho desse Pelotense.