Os 30 anos da imigração brasileira
Rosana Entler chegou no Canadá em 2000
Tony foi o primeiro brasileiro que conheci no Canadá. Ele desembarcou nas terras geladas em 1971. Quando perguntei por que ele havia decidido sair do Brasil, a resposta foi “Ah, sei lá, sabe como eram as coisas no Brasil naquele tempo, né?”. Tony saiu do Brasil na época do “ame-o ou deixe-o”, e, quer saber, Tony nunca deixou de amar o Brasil.
Também não foi por não amar o país que, em 1987, voos lotados da extinta Varig pousavam no aeroporto de Toronto. Foram tantos brasileiros que desembarcaram naquele ano que 1987 é considerado o marco da imigração brasileira na terra do hockey.
Dizer que imigramos em busca de uma vida melhor é redundância. O que talvez torne cada caso de imigração único seja o significado de uma vida melhor para cada um de nós. Segurança, estabilidade financeira, acesso a sistemas de saúde e educação decentes, são as razões mais óbvias e imediatas, mas, seja lá qual for a definição de uma vida melhor, buscamos sim oportunidades dentro de um sistema mais justo para todos.
Trinta anos se passaram e há muito o que se comemorar. Superamos a dificuldade de se pronunciar o tal do “th”, as temperaturas negativas, a saudade da família, e hoje fazemos a diferença em vários setores da economia canadense. Para os que aqui chegaram em 1987, tenho certeza que trinta anos voaram, mas a verdade é que esses voos corajosos fizeram com que, diferentemente do tempo em que o Tony chegou, nossa bagagem cultural fosse reconhecida além dos tão insuportáveis clichês.
A todos que há trinta anos entraram naquele avião, aos que vieram antes, aos que chegaram depois, e àqueles que ainda chegarão, parabéns e o meu muito obrigada por terem tido a intrepidez e o instinto desbravador.
E que venham mais trinta anos.
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