A festa do dia 25
Rodrigo Toniol é colunista do Jornal de Toronto
Dia 25 de dezembro, Roma, século II, auge do Império. A cidade está em festa, a população comemora uma das datas mais importantes do calendário; inúmeros cultos religiosos são realizados nos templos e também fora deles. Não, não era o Natal que estava sendo comemorado, mas sim o nascimento do deus Mitra, muito cultuado durante o Império Romano. Mitra, era um deus persa, cuja devoção em Roma começou por volta do século IV a.C, após o imperador Alexandre, o Grande, conquistar o Oriente Médio e algumas tradições da região se espalharem pela Europa.

Escultura romana do séc. II d.C, que está no Museu Britânico. De acordo com a mitologia indo-iraniana, Mitra matou o touro cósmico vivificante e seu sangue fertilizou toda a vegetação.
Os romanos, no entanto, não eram os únicos a fazerem festa na semana do dia 25. Aquele era o mesmo período que os gregos devotavam a Dionísio e os egípcios a Osíris. E, muitos séculos depois, no próximo dia 25 de dezembro, também estaremos em festa, com fartura de comida e bebida, celebrando o nascimento de Cristo.
Essas sobreposições não são resultado de uma coincidência histórica global. Pelo contrário, elas demonstram fascinantes conexões entre populações que podem nem ter tido muito contato, mas que compartilhavam conhecimentos astronômicos e sabiam que naquela semana ocorre um importante evento natural: o solstício de inverno. O solstício é o dia mais curto do ano (no Hemisfério Norte) e marca a data em que o avanço da escuridão sobre a luz chega ao fim, já que a partir daquele momento os dias ficam cada vez mais longos – até finalmente chegarmos no solstício de verão, em junho, quando o ápice da luz também marca novamente o início do ciclo de dias mais escuros. A volta do sol é o renascimento da luz, o início dos períodos mais férteis para a agricultura, o momento de celebrar a vida. Historicamente, a data de nascimento de Cristo foi estabelecida no dia 25 de dezembro apenas no ano de 221, e foi aceita pela Igreja somente depois de quase 100 anos. Fazer o nascimento de Cristo coincidir com o de Mitra foi um modo de manter as celebrações que já ocorriam há séculos, substituindo “apenas” o celebrado.
A força do Natal, como sabemos, não está em sua precisão histórica, mas sim na sua carga simbólica. Por isso, saber que, de alguma maneira, nessa data, estaremos conectados com tradições persas, africanas e europeias dá à nossa festa ainda mais potência e também nos permite pensar a história dessa celebração de outra maneira.
Parabéns pelo texto! Muito informativo e com qualidade de escrita!