O que são os “Paradise Papers” e o que revelam

Vazamento de milhões de documentos mostra a escala do império offshore, que envolve da Rainha da Inglaterra à Apple e Facebook.

Vista das Ilhas Cayman. Foto: Stephane Venne.

Nick Hopkins & Helena Bengtsson são jornalistas do The Guardian

[Outras Palavras / The Guardian]

O que são os “Paradise Papers”?

O nome refere-se a um vazamento de 13,4 milhões de arquivos, que abrangem o período de 1950 a 2016. A maioria dos documentos – 6,8 milhões – é relativa a um escritório de advocacia e um provedor de serviços corporativos que operavam juntos em 10 jurisdições sob o nome de Appleby. Ano passado, o braço “fiduciário” do negócio foi submetido a uma compra de ações e agora chama-se Estera.

Há também detalhes sobre 19 registros corporativos mantidos por governos em jurisdições sigilosas – Antigua e Barbuda, Aruba, Bahamas, Barbados, Bermudas, Ilhas Cayman, Ilhas Cook, Dominica, Granada, Labuan, Líbano, Malta, Ilhas Marshall, São Kitts e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente, Samoa, Trinidade e Tobago e Vanuatu.

Quantas organizações de mídia examinaram os dados?

The Guardian é uma das 96 publicações no projeto. Um total de 381 jornalistas, de 67 países, analisaram o material.

Quem conseguiu os documentos – e como?

Os vazamentos foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, que recebeu também os “Panama Papers” no ano passado. O Süddeutsche Zeitung compartilhou o material com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, uma organização com base nos EUA que coordenou a colaboração global. O Süddeutsche Zeitung não discutiu nem discutirá questões que envolvam as fontes.

Os “Paradise Papers” têm foco em empresas ou em indivíduos?

Em ambos. Eles estão unidos por uma coisa – o dinheiro. Algumas multinacionais gigantes figuram no vazamento, incluindo a Apple, a Nike e o Facebook, assim como pessoas entre as mais ricas do mundo – da Rainha da Inglaterra ao cantor Bono, e a estrelas de Hollywood.

O que mostram os documentos?

Os arquivos mostram que o império offshore* é maior e mais complicado do que a maioria das pessoas pensava. E mesmo companhias tais como a Appleby, que se orgulha de ser guardiã das normas do setor, foram denunciadas pelos reguladores que tentam fiscalizar a indústria.

Os arquivos expuseram a miríade de caminhos pelos quais empresas e indivíduos podem evitar os impostos usando estruturas artificiais. Esses esquemas são legais se operados corretamente. Mas muitos parecem não ser. E políticos em todo o mundo estão começando a perguntar se eles poderiam ser proibidos. Eles são justos? São éticos?

Uma questão fundamental colocada pelos Paradise Papers é: a evasão fiscal em todas as suas formas foi muito longe?

O que diz a Appleby?

A empresa negou qualquer malfeito, seja para si mesma ou para qualquer de seus clientes. Mas admitiu não ser infalível e disse que tenta aprender com seus erros. A companhia concordou em participar de qualquer investigação formal que venha a ser feita a partir das revelações. A Estera declinou de comentar.

[Tradução: Inês Castilho]

* São chamadas de offshore as sociedades registradas no exterior, em um país onde o proprietário da empresa não é residente. É o que comumente se diz “ter dinheiro em paraísos fiscais”. Segundo declarou o secretário de orçamento francês, Christian Eckert, “Não é necessariamente proibido ter uma sociedade ‘offshore’ ou uma conta no exterior, o importante é saber que atividade real há por trás dessas contas e qual é a origem desses fluxos financeiros”.

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