Ícone do site Jornal de Toronto

O vento

Foto: Thinkstock.

Branca Sobreira é escritora e jornalista

Eu sou a brisa que bate na superfície da água, no rosto molhado do choro, que balança as bandeirolas da varanda, que mata o calor do sol quente. Posso soprar ao pé do ouvido um “fica bem”, “você não está sozinho”, sou afago. Sou suave quando quero. Me gusta viajar pelo mar, aquela imensidão nunca me cansa. Os barcos, pipas e jangadas precisam de mim para avançar em suas jornadas. Gosto de observar o Rio de Janeiro pelo ombro do Cristo Redentor, Salvador pelo farol, Lisboa por seu Castelo.

Sou mais velho do que o mais antigo dos ancestrais. Existo desde o primórdio dos tempos. Me materializei ao sétimo dia para ser leve, forte ou fraquinho. Vi tiranos no poder, vampiros virando gente, anjos caídos do céu e amores começando. Posso me irritar e levar o telhado das casas, levar vírus por muitos quilômetros além, e isso tem tirado o sono da humanidade que se tranca em casa e não me deixa entrar.

Quando escapo por alguma fresta vejo famílias unidas em oração, abraços apertados, telefonemas saudosos. Vejo mudança dentro das impossibilidades, como o avião que decola contra… Um dia eu trago a cura também, tudo faz parte de um ciclo, até lá não me levem tão a sério, encontrem espaços de alegria, de aprendizado. Entre erros e acertos, continuem humanos, demasiadamente humanos.

Sair da versão mobile