O vento

Eu sou a brisa que bate na superfície da água, no rosto molhado do choro, que balança as bandeirolas da varanda, que mata o calor do sol quente.

Foto: Thinkstock.

Branca Sobreira é escritora e jornalista

Eu sou a brisa que bate na superfície da água, no rosto molhado do choro, que balança as bandeirolas da varanda, que mata o calor do sol quente. Posso soprar ao pé do ouvido um “fica bem”, “você não está sozinho”, sou afago. Sou suave quando quero. Me gusta viajar pelo mar, aquela imensidão nunca me cansa. Os barcos, pipas e jangadas precisam de mim para avançar em suas jornadas. Gosto de observar o Rio de Janeiro pelo ombro do Cristo Redentor, Salvador pelo farol, Lisboa por seu Castelo.

Sou mais velho do que o mais antigo dos ancestrais. Existo desde o primórdio dos tempos. Me materializei ao sétimo dia para ser leve, forte ou fraquinho. Vi tiranos no poder, vampiros virando gente, anjos caídos do céu e amores começando. Posso me irritar e levar o telhado das casas, levar vírus por muitos quilômetros além, e isso tem tirado o sono da humanidade que se tranca em casa e não me deixa entrar.

Quando escapo por alguma fresta vejo famílias unidas em oração, abraços apertados, telefonemas saudosos. Vejo mudança dentro das impossibilidades, como o avião que decola contra… Um dia eu trago a cura também, tudo faz parte de um ciclo, até lá não me levem tão a sério, encontrem espaços de alegria, de aprendizado. Entre erros e acertos, continuem humanos, demasiadamente humanos.

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32 comentários em O vento

  1. Ler os textos da Branca é sentir a leveza de sua alma. Obrigada por dividir seu olhar sensível sobre o mundo e suas complexidades!

  2. Excelente texto!! Nos dá consciência não só da nossa pequenez diante dos atuais problemas, mas também nos afaga como uma mãe ao confortar e lembrar que tudo faz parte de um ciclo natural. De repente, era isso que havíamos esquecido e estamos lembrando novamente: somos humanos, somos bichos, somos sociais, somos instinto, somos amigos, somos finitos, somos natureza, somos vida.

    • Branca trouxestes um convite a um viagem deliciosa, embalada por tuas palavras, juntas nos fazem passear mundo afora, cá numa rede deitada. E, a poética? Ah, numa toada poética danada de boa, senhora! Coisa de humano Ser, coisas de poeta, o que fazer? Mais escrever… Quando mesmo,tem mais?

  3. Parabéns!!! Texto reconfortante em dias difíceis. Boa leitura que nos acalma a alma. É como um sopro nós remetendo a um passado não muito distante e ao mesmo tempo nos chamando pra realidade dizendo…calma…tudo vai passar.

  4. Muito bom! Parabéns !!!

  5. Lindo texto que se torna uma poesia. Aquece o coração e transborda sensibilidade. Parabéns Branca! E obrigada por compartilhar seus belos pensamentos 😍😘😘

  6. Neuma Sobreira de Oliveira // 7 de abril de 2020 às 10:35 pm // Responder

    Parabéns Branca Sobreira, excelente!!!

  7. Marília Licarião // 7 de abril de 2020 às 10:37 pm // Responder

    Texto maravilhoso, que conforta, mesmo no desconforto. Branca e sua sensibilidade, nos fazendo lembrar que nunca é tarde para olharmos o todo, e principalmente o que temos dentro.

  8. Parabéns. Palavras de coração de olho atento ao mundo

  9. É como dizer calma, tudo já já vai passar e nós voltaremos apreciar as maravilhas desde mundo. Parabéns!

  10. Nossa! Que talento, Branca! Fico feliz de ver que a arte da escrita ainda vive e pulsa jovem! Bjo!

  11. Que texto lindo ❤️
    Quanta sensibilidade e ternura nas suas palavras!
    Esse vento é Deus gritando em nossos ouvidos… e dizendo: tudo vai passar! 🙏🏻❤️

  12. Belo texto! Sensibilidade à flor da pele! Parabéns, Branca!

  13. Que lindo! Leve e doce, como tem que ser o afago das palavras nesses momentos de incertezas. Obrigada, Branca por trazer alento às almas.

  14. REJANE Porto COUTINHO // 8 de abril de 2020 às 5:54 am // Responder

    Muita sensibilidade. Um afago para dias insones.

  15. Daniela Valente Martins // 8 de abril de 2020 às 6:27 am // Responder

    Precisamos da leveza e poesia sempre.Em tempos difíceis e fáceis também. Belo texto! Parabéns, Branca!

  16. Texto lindo! Pura poesia que fala da própria vida! Uma rima de sensibilidade, de esperança e de amor. De uma grandeza de pensamentos extraordinários que nos possibilita muitos pensares. Parabéns Branca ! Vc não me conhece, mas sou amiga de sua mãe e da Catarina e Cristiana. Fomos amigas de infância .Bjos

  17. Valéria Frota Rosa // 8 de abril de 2020 às 7:03 am // Responder

    Curioso e muito bom, Branca. Senti os problemas hoje vividos, a esperança nos corações, a pureza e beleza vida.

  18. Priscila Rodrigues Furtado // 8 de abril de 2020 às 7:37 am // Responder

    Lindo texto. Me traz saudosas lembranças. Como é bom imaginar essa brisa neste momento tão angustiante. Refletir que os simples atos da vida, na verdade, são os mais essenciais para o ser humano. Parabéns Branca.

  19. Roberto Carvalho // 8 de abril de 2020 às 7:41 am // Responder

    Agradável leitura! Uma alegria no coração nestes dias difíceis! Parabéns!

  20. Parabéns Brava, muito gostoso a gente ler algo que se percebe vir do coração, muita leveza e luz nas suas palavras mesmo nesse momento, é uma alegria poder estar deixando aqui essa pequena mensagem sobre seu texto, excelente.
    Bjo!

  21. Pedro Robston Quariguasi Vasconcelos // 8 de abril de 2020 às 8:17 am // Responder

    Muito bom, parabéns pelo excelente artigo.

  22. Filha mãe!
    Que douçura sai à abelha rainha.
    DENISE parabens.

  23. Virna de Oliveira Gomes // 8 de abril de 2020 às 10:17 am // Responder

    Que o vento continue soprando palavras no universo dos escritores sensíveis como você. Parabéns

  24. Que texto maravilhoso! Cheio de beleza, poesia e sensibilidade, como tudo o que a Branca escreve. Mais um pra ler, reler e se emocionar!

  25. Lindo texto!

  26. Luiz Florentino de Gois // 8 de abril de 2020 às 1:31 pm // Responder

    Parabéns Branca, artigo brilhante. Continue escrevendo artigos maravilhosos que tenha conteúdos com “O Vento”.

  27. Branca seu texto diz muito de você mesmo, bom poder dizer que também acompanhei um pouco dessa evolução.

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