Tempo de quarentena

Pois em março de 2020 o mundo parou.

Foto: Sylvain Roy.

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto

Pois em março de 2020 o mundo parou. O coronavírus, depois chamado oficialmente de Covid-19, que desde janeiro já preocupava e causava mortes na China, onde inicialmente foi identificado, já havia se espalhado pelo mundo inteiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia, e tudo começou a fechar. Inicialmente, campeonatos esportivos e escolas pararam; depois, foi a vez de tudo o que não fosse essencial também paralisar suas atividades. As Olimpíadas de Tóquio foram adiadas para o ano seguinte. As ruas no Canadá, como no mundo inteiro, começaram a ficar desertas.

As empresas apressaram-se a estabelecer esquemas de home office, para que seus funcionários passassem a trabalhar de casa, evitando o contato e o contágio. Sair às ruas ficou reservado para casos excepcionais, como ir fazer compras no supermercado, ir à farmácia ou buscar atendimento de saúde, além dos que iam trabalhar nos serviços essenciais. Usar máscaras e luvas nas ruas tornou-se rotina. Até o metrô, na hora do rush, passou a circular com pouquíssimas pessoas. Os parques de Toronto foram fechados. Tomou-se um sentimento de medo de andar pelas ruas, pelo perigo de contágio, igual ao que se tinha ao circular pelo Brasil, com receio de assaltos. Os voos da Air Canada para o Brasil, aliás, foram suspensos.

A capacidade de reação dos governos mundo afora tornou-se o diferencial. A China fechou tudo rapidamente quando começou por lá a epidemia, e por isso, no início de abril já reabria os negócios enquanto o resto do mundo ainda cerrava. Para alguns políticos, criou-se um duelo entre saúde e economia, e prevalecia o interesse econômico. Foi assim com o prefeito de Milão, que um mês depois arrependeu-se, com a Itália já sendo o segundo país com mais mortes pela doença. Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump; do Brasil, Jair Bolsonaro; e do México, Andrés Manuel Obrador, foram notórios negacionistas da pandemia. Mas enquanto Trump e Obrador recuaram, vendo as mortes se avolumando em seus países, Bolsonaro no início de abril ainda chamava a Covid-19 de “gripezinha” e passeava entre seus apoiadores, contrariando as regras de distanciamento social da OMS. Incrivelmente, pregava a reabertura do comércio, e seus partidários faziam carreatas neste sentido em seus carros importados.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, por outro lado, foi um exemplo de sensatez. Entrou em isolamento, já que sua própria esposa, Sophie Trudeau, foi acometida pela doença. Fazia pronunciamentos diários em rede de TV prestando contas das medidas adotadas sozinho, enquanto Trump os fazia cercado de assessores, contrariando as regras de distanciamento social – Bolsonaro, por sua vez, atrapalhou-se até para colocar a máscara. O Canadá lançou um grande pacote de medidas para atender os desempregados e as empresas em dificuldades.

A grande preocupação mundial era evitar uma sobrecarga nos sistemas de saúde, além da escassez de material de proteção mundial para os profissionais de saúde e de ventiladores para os enfermos. O mantra era tentar achatar a curva de contágio, que crescia exponencialmente, para que não faltasse atendimento, como ocorreu na Itália, onde os respiradores eram destinados aos mais jovens, pela maior probabilidade de sobrevivência. Sem vacina e sem remédio descobertos, e ainda não se tendo chegado ao pico de contágio, a recomendação da OMS é clara: lave as mãos com água e sabão ou álcool gel, e fique em casa. Esses duros dias de quarentena, com certeza, ficarão marcados na memória de nossa geração.

Sobre José Francisco Schuster (80 artigos)
Com quase 40 anos de experiência como jornalista, Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Ao longo dos últimos 10 anos, tem produzido programas de rádio para a comunidade brasileira no Canadá, como o "Fala, Brasil" e o "Noites da CHIN - Brasil". Schuster agora comanda o programa "Fala Toronto", nos estúdios do Jornal de Toronto.

1 comentário em Tempo de quarentena

  1. Parabens gostei do seu comentario mas esquaceuse de falar na classe enferior como cleaners e security numca deixaram o barco nos somos como o bom capitao abadonamos o barcosou no ultino casao.

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